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25 Maro 2022 Festa da Anunciação de Nossa Senhora |
Uma noite, depois de conversar durante uns momentos com o anjo da guarda, Gemma Galgani ouviu-o a ordenar-lhe que fosse para a cama, « dizendo que essa noite —como conta— terei de estar sozinha, porque se ele ficasse não dormiria. De seguida, ele partiu. A verdade é que, quando está comigo não durmo, pois conta-me muitas coisas que ocorrem no Paraíso, e a noite passa muito depressa. Deixou-me sozinha, e dormi. Entretanto, acordei várias vezes e logo de seguida dizia-me : “Dorme, senão partirei para sempre” ». Assim, de um modo aprazível, Gemma recebe do Céu ensinamentos profundos sobre a conformidade com a vontade de Deus. Quem é esta jovem sobre a qual São Maximiliano Kolbe escrevia em 1921 : « Li a vida de Gemma… Foi mais útil do que uma série de exercícios espirituais. » ?
Gemma, quinta de oito filhos, nasceu a 12 de Março de 1878, na Toscânia (Itália central). No dia seguinte, recebeu no Baptismo o nome de Gemma. A mãe, Aurélia Landi, casada com Henrique Galgani, um farmacêutico de Camigliano, é muito piedosa. Queria para a filha o nome de uma grande santa, mas o pároco questiona-a : « Gemma ! Não é no Paraíso onde se encontram as gemas (pedras preciosas) ? Esperemos que também ela seja uma gema do Paraíso ». A mãe esforça-se em transmitir as suas profundas convicções religiosas aos filhos : fá-los rezar, leva-os à Missa e explica-lhes de que modo o Bom Jesus entregou a Sua vida por nós. Em Abril de 1878, a família estabelece-se na cidade de Lucca, onde o pai comprou uma ampla farmácia. No decorrer do ano de 1881, Gemma frequenta um infantário onde revela uma viva inteligência. O seu amor à oração cresce muito. Tem aproximadamente quatro anos quando a avó, ao entrar no seu quarto de improviso, a surpreende comas mãos juntas, de joelhos diante de uma imagem da Virgem. « Que fazes, Gemma ? » —pregunta-lhe após tê-la contemplado durante algum tempo. « Rezo a Ave Maria. Deixa-me, que quero rezar ! » —responde a pequena. Outras vezes, mãe e filha põem-se de joelhos, unidas na mesma oração. Aurélia Galgani, vítima de tuberculose, não estará neste mundo mais de oito anos após o nascimento de Gemma. Com frequência repete-lhe : « Se pudesse levar-te comigo para o Paraíso ! ». Um dia em que a doente se vê obrigada a permanecer na cama, dirá Gemma : « Não queria separar-me da minha mãe, tão pouco sair do seu quarto, desejava partir com ela para Paraíso, e receava que ela voasse sozinha para o Céu ».
A 26 de Maio de 1885, com a idade de sete anos, a menina recebe o sacramento da Confirmação. Então, e pela primeira vez, ouve uma voz interior que lhe diz : « Gemma, queres dar-me a tua mãe ? —Sim, com a condição de me levar também. — Não ! Dá-ma voluntariamente… por ora, deves ficar com o papá. Tu sabes que a conduzirei ao Paraíso ». « Vi-me na obrigação de responder que sim —conta Gemma—, mas eu chorava… ». Mais que nunca, permanece junto da mãe em agonia. Temendo pela vida de sua filha, o senhor Galgani confia-a ao cuidado da tia. Aurélia, de trinta e oito anos de idade, morre a 17 de Setembro de 1886, depois de dizer : « Ofereço a minha vida para obter a graça de voltar a ver os meus oito filhos no Paraíso ».
Todos os dias um 10
Gemma frequentou um colégio de religiosas e, a 17 de Junho de 1887, com a idade de nove anos, fez a primeira Comunhão. Tinha insistido para obter essa graça, que na época não era concedida às crianças dessa idade. Henrique Galgani já não suportava ver a filha chorar por não poder comungar, e o pároco tinha-lhe dito que lhe concederia autorização, com receio que ela ficasse doente. Porém, Gemma confessará que tinha o mau hábito de chorar, para comover o pai e conseguir o que desejava. E, nesse dia, descobre quanto as delícias do Céu diferem das da terra. « Foi naquela manhã que Jesus me concedeu o forte desejo de ser religiosa » —escre-verá ao seu diretor espiritual.
Nos estudos, Gemma distingue-se em francês, aritmética e música ; mas deseja sobretudo conhecer o que diz respeito à Paixão de Jesus. A professora promete-lhe que lhe explicará um tema diferente sempre que obtenha 10 valores (a classificação máxima). « Estava tão contente ! —escreverá ; todos os dias tirava um 10 e todos os dias recebia a minha explicação ». Obterá uma menção honrosa pelo conhecimento do catecismo. Mas, pela idade de doze anos o seu fervor diminui e sente Jesus a afastar-se cada vez mais. O pai, com efeito, não lhe recusa nada, o que lhe possibilita vestir-se de forma elegante, coisa que muito a satisfaz. Mas também tem grande amor aos pobres e, quando sai, despoja a casa para dar esmolas. Ante semelhante prodigalidade, Monsenhor Volpi (bispo auxiliar de Lucca e depois bispo de Arezzo ; 1860-1931), seu confessor, acaba por lhe proibir tanta generosidade, e também o pai não lhe concede os meios para dar largas à sua generosidade. A jovem acaba por não sair de casa, com receio de se encontrar com os pobres que não poderá socorrer.
As jóias da esposa
A 11 de Setembro de 1894, Gino, o irmão preferido, morre de tuberculose ; era seminarista e tinha dezoito anos. Inconsolável, Gemma ficou doente durante três meses. Uma vez recuperada, é rodeada de atenções pelo pai que a enche de presentes. Um dia, oferece-lhe um relógio em ouro, que usa com satisfação durante uma saída. De regresso, o anjo da guarda aparece-lhe pela primeira vez : « Recorda que as joias preciosas que adornam a esposa de um Rei crucificado outras não podem ser que os espinhos e a Cruz ». A partir de então, a jovem submete-se a um grande desprendimento para agradar a Jesus : vestirá com grande sobriedade, sem outro ornamento além dos seus olhos claros e do sorriso celestial. Assinará as suas cartas : “A pobre Gemma”. A sua luta quotidiana dirige-se também contra os seus defeitos e faltas, a fim de aceder à humildade.
No Natal desse mesmo ano, o seu confessor concorda que ela faça votos de castidade ; tem dezassete anos. Mais tarde escreverá ao diretor espiritual : « Esta manhã, na Comunhão, Jesus dizia-me : “Vês, Gemma, no meu coração há uma menina a quem amo muito e que também me ama muito. Essa menina pede-me sempre amor e pureza, e eu que sou o verdadeiro amor e a verdadeira pureza, concedo-lhe tanto amor quanto uma criatura humana possa receber” ». Gemma pede a Jesus que a faça sofrer muito para lhe provar o seu amor. Este surpreendente pedido não é expressão de um psiquismo débil, mas de um ardente desejo de se parecer-se com Jesus na sua Paixão. Mediante a sua graça, Deus oferece-nos a possibilidade de participar na obra da Redenção que frutifica na comunhão dos Santos.
« Vós sois corpo de Cristo e Seus membros, cada um na parte que lhe diz respeito (1 Co.12, 26-27). A caridade não é interesseira” (1 Co. 13, 5). O mais insignificante dos nossos atos, realizado na caridade, reverte em proveito de todos, nesta solidariedade com todos os homens, vivos ou defuntos, que se funda na comunhão dos Santos. Pelo contrário, todo o pecado prejudica esta comunhão”… “Este termo (“comunhão dos Santos”) designa a comunhão das “pessoas santas” (sancti) em Cristo, que morreu por todos, de modo que dá fruto, para todos, o que cada um faz ou sofre por Cristo e em Cristo » (Catecismo da Igreja Católica, nos 953, 961).
Gemma não demora a ser atendida : já que lhe aparece um abcesso no pé, que lhe provoca uma dor que aceita generosamente e esconde como pode para que só Jesus o saiba. Em pouco tempo, o mal degenera em cárie do osso. O aumento das dores obriga-a a consultar médicos que, para evitar a amputação, propõem raspar o osso. Gemma reprova « os seus próprios choros e gemidos », mas os familiares e os médicos ficam impressionados com o seu silêncio e sorriso.
Pertencer a Jesus
Em 1897, Henrique Galgani morre de um cancro na garganta. Gemma ficou muito afetada, mas JESUS fortalece-a interiormente. Enviam-na então para casa de uma tia paterna, a quem ajuda a gerir uma loja de ferragens, para satisfação de todos. São vários os jovens que a pedem em casamento. Mas ela, que deseja pertencer por completo a Jesus, declina essas propostas ; uma dor nas costas obriga-a a regressar a Lucca. Gemma está sofrendo da doença de Pot, uma tuberculose dos ossos que afeta a coluna vertebral. Em pouco tempo fica paralítica e tem de permanecer na cama. O seu maior sofrimento consiste em ter de ser auscultada pelos médicos, pois procura com grande esmero conservar, pelo pudor uma grande pureza de corpo e de espírito : « Nunca deixava de rezar todos os dias três Ave Marias ajoelhada sobre as mãos —prática penitencial que a mamã me tinha ensinado— a fim de que Jesus me livrasse dos pecados contra a santa pureza ».
« A pureza exige o pudor. O pudor é parte integrante da temperança… Ordena-se para a castidade e comprova-lhe a delicadeza. Orienta os olhares e as atitudes em conformidade com a dignidade das pessoas e os sentimentos que as unem. O pudor é modéstia. Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo de uma curiosidade malsã. O pudor inspira um modo de viver que permite resistir às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes. Nasce com o despertar da consciência subjetiva. Ensinar o pudor a crianças e adolescentes é despertar neles o respeito da pessoa humana » (CIC, n° 2521-2524). Na encíclica Sacra virginitas, o Papa Pio XII advertia : « Para conservar intacta a virtude da castidade não bastam a vigilância e o pudor. É necessário recorrer também aos meios sobrenaturais : a oração, os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, e a uma devoção ardente à Santíssima Mãe de Deus » (25 de Março de 1954, n° 59).
Gemma confessará que, depois de ter sofrido, estava dececionada por constatar que recuperava as forças, pois via na morte a porta de entrada no Paraíso. Umas visitandinas que lhe vêm fazer curativos propõem-lhe que faça uma novena a Santa Margarida Maria para que a ajude a curar-se ou a ter uma boa morte. Lê então, com agrado, a vida de um jovem religioso passionista chamado Gabriel de l’Addolorata (falecido em 1862 e canonizado em 1920). Estabelece com ele uma grande amizade e, todas as tardes, frei Gabriel aparece-lhe para a ajudar a fazer a novena. Depois, com frequência, conversará com ela. No final da novena, com grande espanto dos médicos, Gemma fica completamente curada. Um deles suspeita tratar-se de histeria, o que a magoa, sem no entanto lhe fazer perder a tranquilidade de espírito. Encara a hipótese de ingressar na Visitação, mas Frei Gabriel aconselha-a que somente faça promessa de ir para religiosa e de se consagrar ao Sagrado Coração. Quando lhe pergunta o motivo, ele responde-lhe de maneira enigmática : « Sorella mia ! (Minha irmãzinha !) ».
Amigos íntimos
A especificidade da vida de Gemma encontra-se no seu carácter simples e monótono, unido a uma extraordinária familiaridade com o mundo sobrenatural. Conversa com os anjos e os santos como se de amigos íntimos se tratassem. O diário que escreveu em obediência ao diretor espiritual é disso testemunha. Quinta-Feira Santa, 30 de Março de 1899, Jesus crucificado dirige-se-lhe nestes termos : « Olha, minha filha, e aprende como se ama. Vês esta cruz, estes espinhos e estas chagas ? Tudo é obra do amor, e do amor infinito. Vês até que ponto te amei ? Queres amar-me verdadeiramente ? Em primeiro lugar aprende a sofrer ; o sofrimento ensina a amar ». No dia seguinte, pela primeira vez, Nosso Senhor Jesus Cristo dá-lhe a Comunhão da Sua própria mão, pois, doente como está, não tem autorização para assistir aos ofícios litúrgicos. Une-se às cerimónias da Sexta-Feira Santa confinada no quarto : « Veio o meu anjo da guarda e rezámos juntos. Acompanhámos Jesus em todos os seus sofrimentos, compadecendo-nos com as dores da nossa Mamã (é assim como chama à Virgem Maria). O meu anjo também me fez uma pequena advertência ao dizer-me que não devia chorar quando tivesse de fazer algum sacrifício por Jesus, mas que agradecesse a quem me proporcionasse a ocasião para o fazer ».
Na encíclica Spe salvi, o Papa Bento XVI recorda o sentido dos pequenos sacrifícios : « A ideia de poder “oferecer” as pequenas dificuldades quotidianas, que nos tocam uma e outra vez como picadas mais ou menos desagradáveis, dando-lhes assim um sentido, era uma forma de devoção muito praticada até há pouco tempo, embora ainda hoje o seja… Convém preguntar-se se qualquer coisa de essencial, que poderia ser uma ajuda, não estava aí contida de alguma maneira. Que quer dizer “oferecer” ? Estas pessoas estavam convencidas de poder incluir as suas pequenas dificuldades na grande compaixão de Cristo, e que entravam assim de algum modo no tesouro de compaixão de que necessita o género humano. Desta maneira também as pequenas contrariedades diárias poderiam adquirir um sentido e contribuir a fomentar o bem e o amor entre os homens. Quiçá deveremos perguntar-nos realmente se uma tal coisa não poderia tornar-se uma perspectiva sensata também para nós » (n° 40).
Em Maio de 1899, Gemma bate à porta da Visitação de Lucca, mas o estado de saúde extremamente precário, não lhe permite a admissão. A 8 de Junho seguinte, véspera da festa do Sagrado Coração de Jesus, recebe a graça da estigmatização, quer dizer, da impressão, nas suas mãos e no seu lado, de chagas semelhantes às que Jesus recebeu na Paixão. « Jesus apareceu com as feridas abertas —relata Gemma—, mas dessas feridas já não brotava sangue mas chamas de fogo. Num instante essas chamas tocaram as minhas mãos, os pés e o coração. Senti-me a morrer e teria caído no chão se a minha Mãe (a Virgem Maria) não me tivesse amparado ».
Horas de sofrimento e de alegria
Até à morte, todas as semanas, desde as 20h de quinta-feira até às 15h de sexta-feira, reviverá a Paixão, levando nas mãos, nos pés e no lado as marcas do amor de Deus para com os homens. O próprio Jesus impôs-lhe também, nessa mesma ocasião, a sua coroa de espinhos. Gemma precipita-se em sentimentos de agradecimento, pois desse modo pode consolar Jesus e testemunhar-Lhe o seu amor. Estas horas de sofrimento são também horas de alegria pela forte intimidade que sente com o Salvador. Ela intercede pelas pessoas que ama e também pelos pecadores ; além disso, Gemma pede perdão pelos seus próprios pecados.
« Operando a Redenção mediante o sofrimento — escrevia o Papa João Paulo II—, Cristo elevou juntamente o sofrimento humano a nível de Redenção. Por conseguinte, todo o homem, no seu sofrimento, pode tornar-se também partícipe do sofrimento redentor de Cristo » (Carta apostólica Salvifici doloris, 11 de Fevereiro de 1984, n° 19). Gemma Galgani esteve unida de uma maneira muito especial à Cruz de Cristo. Porém, todos deveremos sofrer por fidelidade à verdade, à justiça e ao amor : « Sofrer com o outro, pelos outros —explica o Papa Bento XVI— ; sofrer por amor à verdade e à justiça ; sofrer por causa do amor e com o fim de se tornar numa pessoa que ama realmente, são elementos fundamentais da humanidade, cuja perda destruiria o próprio homem… Somos capazes disso ? O outro é tão importante ao ponto de eu me tornar por causa dele numa pessoa que sofre ? A verdade é tão importante para mim como algo que compensa o sofrimento ? A promessa do amor é tão grande que justifique o dom de mim mesmo ? Na história da humanidade, a fé cristã tem precisamente o mérito de ter suscitado no homem, de maneira nova e mais profunda, a capacidade destes modos de sofrer que são decisivos para a sua humanidade… A fé cristã ensinou-nos que Deus – a Verdade e o Amor em pessoa– quis sofrer por nós e connosco » (Spe salvi, n° 39).
A jovem com estigmas, confundida pelas marcas de predileção que transporta no corpo, faz todo o possível por escondê-las. Monsenhor Volpi, perturbado com esses acontecimentos, põe, com frequência, à prova a jovem e deseja acompanhar um médico suscetível de examinar os estigmas. Apesar de uma carta de Gemma que o insta, da parte de Jesus, a que venha só, pois que em caso contrário não verá nada, ele faz-se acompanhar por um médico junto da jovem em êxtase. O médico limpa as chagas com algodão e o sangue assim absorvido deixa ver a pele intacta. O médico é categórico : trata-se de um caso de histeria, e a jovem ter-se-ia picado com agulhas. Os mais próximos a Gemma põem então em dúvida a realidade das manifestações sobrenaturais. Assim, o desaparecimento dos estigmas diante do médico é uma prova de humildade para a jovem.
Uma filha predileta
No princípio do verão de 1899, uns religiosos passionistas (membros da congregação fundada no século XVIII por São Paulo da Cruz) pregam uma missão em Lucca. Gemma constata com surpresa que os padres usam o mesmo hábito que o seu “frei Gabriel”. Ouve, então, no seu coração que Jesus lhe pergunta : « Também gostarias de vestir esse hábito ?… Serás uma filha da minha Paixão e uma filha predileta. Um desses religiosos será o teu pai espiritual. Vai e revela tudo ! ». A jovem confia-se a um dos religiosos, que lhe proíbe algumas penitências extraordinárias que ela pratica sem autorização. De seguida, põe-na em relação com a família Giannini, onde será acolhida e escondida dos olhos do mundo. Os esposos Giannini, que têm doze filhos, recebem de bom grado Gemma em casa, pois apreciam a sua virtude e piedade. É apresentada ao padre Germano, religioso passionista, que a guiará com segurança e firmeza. Gemma escreve-lhe com frequência e obedece-lhe em tudo, indo ao ponto de despedir Jesus, quando o tempo de oração que lhe foi fixado chegou ao fim. Essa obediência protege-a das ilusões diabólicas. O padre Germano, capaz de discernir uma verdadeira vida mística, deixa com grande esmero que o Espírito Santo opere nela.
A existência de Gemma prossegue cheia de discrição e de serviços humildes : colabora assiduamente nas tarefas domésticas, remenda as peúgas e mantém em ordem a roupa de cada um. Amiúde, o êxtase invade-a onde se encontra e, após o sucedido, Gemma, com simplicidade, continua com o trabalho, em silêncio. Deseja ardentemente entrar num convento, mas em vão : as religiosas passionistas temem receber uma postulante de vida espiritual tão extraordinária. As diligências que empreende com objetivo de fundar um convento de Irmãs Passionistas em Lucca não chegam a bom termo. A partir do Pentecostes de 1902 adoece e deixa de se alimentar ; a sagrada Comunhão torna-se no seu único alimento. É um período de intensa “reparação” oferecida ao Sagrado Coração, assim como de especial intercessão pela santificação do clero. A 21 de Setembro aparecem os primeiros sintomas evidentes de tuberculose pulmonar. Nosso Senhor revela-lhe que ainda deverá superar um doloroso calvário : « Necessito —diz-lhe— de uma expiação imensa, especialmente pelos pecados e sacrilégios com os que Me ultrajam os ministros do santuário ». Os tormentos que suporta durante vários meses são inefáveis, mas a sua paciência não desfalece. O seu amor incondicional a Deus permite-lhe ver na luz divina o “escândalo do mal” e do sofrimento. Em janeiro de 1903 é transferida para uma pequena casa isolada, para evitar contágios. Ali morre a 11 de Abril de 1903, Sábado Santo, com a idade de vinte e cinco anos.
O convento das Passionistas de Lucca, cuja fundação tão ardentemente desejava, abre em 1905, recebendo o corpo da sua celestial protetora, que tinha profetizado : « As Passionistas não me quiseram viva, mas ter-me-ão morta ». A 2 de Maio de 1940, Pio XII canonizou Gemma Galgani após uma minuciosa investigação sobre os fenómenos místicos da sua vida.
Santa Gemma Galgani, concede-nos de Jesus e de Maria a graça da paciência, por amor a Jesus crucificado !