Carta

Blason   Abadia de São José de ​​Clairval

F-21150 Flavigny-sur-Ozerain

France


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5 Julho 2022
Solenidade de Pentecostes


Caro amigo da Abadia de São José

Uma igreja é a única coisa digna de representar um povo, já que a religião é o que há de mais elevado no homem”, dizia António Gaudí, o arquitecto da Basílica da Sagrada Família em Barcelona (Catalunha – Espanha). Na ocasião da sua dedicação, a 7 de novembro de 2010, o Papa Bento XVI disse : “numa época em que o homem pretende construir a sua vida fugindo de Deus, como se já não tivesse nada que dizer-lhe, a consagração da Igreja da Sagrada Família é um acontecimento de grande importância. Através do seu trabalho, Gaudí mostra-nos que Deus é a verdadeira medida do homem e que o segredo da verdadeira originalidade consiste, como ele disse, em retornar à origem, que é Deus. “Ele mesmo, abrindo-Lhe a sua alma, foi capaz de criar nesta cidade um lugar de beleza, de fé e de esperança, que leva o homem ao encontro da verdade e da própria beleza.”

António Gaudí nasceu a 25 de junho de 1852, em Reus (província de Tarragona), quinto filho de Francisco Gaudí Serra e de Antónia Cornet Bertrán. Perdeu todos os seus irmãos e irmãs prematuramente. A sucessão destas mortes, provavelmente, explica a marca de seriedade típica da sua personalidade. Do lado do pai, António é descendente de uma antiga família de caldeireiros. Ver na oficina paterna como se dá forma ao cobre, educa-o a “pensar a três dimensões”. Desde a sua infância, António sofre de reumatismo, doença que o acompanhará toda a vida. Por este facto é obrigado a permanecer por longos períodos na solidão de uma pequena propriedade da família, perto de Riudoms. É lá que os seus olhos captam a luz mediterrânica e as mais belas imagens de rochas, plantas e animais ; Sempre sentiu admiração pela natureza como grande mestra. Na escola, não foi um aluno particularmente brilhante, mas recebeu uma sólida formação espiritual com os padres de São José de Calasanz.

O único propósito

No ano lectivo de 1868-69, o jovem instala-se em Barcelona para continuar os estudos na Escuela Técnica Superior de Arquitectura. Financiava os estudos trabalhando com engenheiros e arquitectos famosos. Além disso, segue lições de filosofia e história na Universidade ; sempre muito interessado pelo mundo da cultura. Segundo ele, a arte deve encontrar inspiração nas leis e nos modelos que observamos na natureza, a obra do Criador, onde brilham a Verdade e a Beleza, que se tornam o objectivo máximo da sua vida. Em 1878, obteve o diploma do curso de Arquitectura.

Após acabar a sua formação, e trabalhando na construção de uma cooperativa, conheceu uma professora que ensinava os filhos dos trabalhadores. Com ela manteve conversações assíduas ; após muitas hesitações, decide falar-lhe em casamento. Consta que ela, algo constrangida, o informa de que estava noiva. Este facto faz com que tome a decisão radical de se entregar de corpo e alma a Deus, o que o levará a permanecer toda a vida solteiro. Toma a seu cargo o acompanhamento de seu idoso pai e de uma sobrinha órfã e doente.

António Gaudí concebeu, em nome de um fabricante de luvas de luxo, uma montra original para a Exposição Universal de Paris (1878). Quando o Conde Güell, pessoa de grande cultura e dono de uma das maiores fortunas de Barcelona, descobre que esta obra tinha sido executada na cidade, procurou a identidade do autor. Deu-se início a uma amizade indestrutível entre ambos. E, sem demoras, o artista é contratado para a produção de uma série de móveis seguida de numerosas construções, entre elas o extraordinário Parque Güell. Gaudí trava, também, uma profunda amizade com o bispo Torras i Bages, bispo de Vic (está aberto o seu processo de beatificação), e também com os bispos de Maiorca e de Astorga. Graças à amizade com estes responsáveis da Igreja, compreende em profundidade o espírito da liturgia e da doutrina social da Igreja. Desde os tempos de juventude mostra muita sensibilidade para com os grandes problemas sociais da época, especialmente no que concerne às condições de vida dos trabalhadores. E, a este respeito, desde muito cedo compreendeu que as grandes contradições sociais não podem encontrar a solução nas utopias materialistas, mas que a devem apenas procurar na aplicação da doutrina social da Igreja.

Gaudí nunca publicou um livro. No entanto, deixou numerosas notas sobre obras de arquitectura e decoração. E, pode dizer-se, foi um dos melhores escritores da história – não em papel, mas na pedra. Não fazia conferências, mas muitas vezes será chamado a explicar o templo da Sagrada Família aos visitantes, e compartilhava com os colegas e discípulos reflexões de sabedoria humana e cristã. Apaixonado pela estética, sente uma especial inclinação pela beleza e entende que se as coisas são belas é por causa do Belo (ou seja, o próprio Deus). Assume que “a beleza é o esplendor da verdade e sem verdade não há arte. O esplendor atrai todas as pessoas ; e é por isso que a arte é universal”.

Na homilia de 7 de novembro de 2010, o Papa Bento XVI sublinhou que : “A beleza é uma grande necessidade do homem ; é raiz da qual brota o tronco da nossa paz e os frutos da nossa esperança. Ela é reveladora de Deus, pois, como Ele, a obra bela é pura gratuitidade, convida à liberdade e afasta do egoísmo“.

O despertar de corações

O século XIX é, para a Espanha, um século de profundas agitações sociais. A febre anticlerical expande-se e há uma viva perseguição à Igreja. José Bocabella, um livreiro muito devoto de São José, teve a inspiração de mandar construir um templo consagrado à Sagrada Família de Nazaré. Em expiação pelos pecados dos homens do nosso tempo, quer dar um forte testemunho do amor de Deus e do seu Filho feito homem, Jesus. Lança uma petição e muitos cristãos aderem ao seu projecto, “para despertar o calor dos corações adormecidos, para que a fé cresça, para que a caridade seja uma realidade e para que, desta forma, o Senhor tenha piedade do país”. Sem demora iniciam-se as obras, mas rapidamente surgem incompatibilidades entre Bocabella e o arquitecto que logo abandona o projecto. Numa noite, a tia de Bocabella teve um sonho : viu o jovem arquitecto que fará erigir a Basílica da Sagrada Família ; no seu sonho ressalta um pormenor : “Os seus olhos são azuis”. Sem dar importância ao sonho, José foi procurar um gabinete de arquitectos. Quando abre a porta e dá de caras com um jovem de olhos azuis, estremeceu : ei-lo perante o arquitecto que a tia vira em sonhos– António Gaudí. Recordemos que na Catalunha os olhos azuis não são muito frequentes. Apesar de os gostos arquitectónicos de Bocabella se orientarem para o clássico, adopta, de maneira imprevisível, os pontos de vista mais modernos do jovem arquitecto.

Convencido de que sem sacrifício é impossível avançar numa empreitada, Gaudí larga a vida cómoda que até então tivera como jovem arquitecto de prestígio ; intensifica a sua oração pessoal e inicia uma vida de grande ascetismo. “Este Templo é um templo de expiação, explica. Isto significa que exige uma vida de sacrifício.” Vive o jejum quaresmal do ano de 1894 de tal maneira que as privações a que se sujeitou o puseram às portas da morte. O bispo Torras i Bages, seu amigo, teve de intervir para o persuadir a que se alimentasse. “A vida é amor e o amor é sacrifício – sublinhava António. Quando vemos que uma casa mostra sinais de vitalidade, é porque há alguém que é sacrificado. Este alguém é, às vezes, um empregado”. António possui um grande amor a Deus e ao próximo, que é enraizado no amor à Cruz. Ele mesmo coroa as suas obras, religiosas ou profanas, com uma cruz de quatro braços que frequentemente levavam as iniciais da Sagrada Família : “JMJ” (Jesus, Maria e José).

Todos têm um lugar

Gaudí concebeu o templo da Sagrada Família, como uma síntese da doutrina católica. Aí serão representados a criação do mundo, o trabalho do homem sobre a terra, a passagem do reino das trevas para o Reino da Luz, os mistérios da vida de Cristo, os sete sacramentos, os sete dons do Espírito Santo, as bem-aventuranças, morte, purgatório, o juízo final, o inferno e o céu… Esta “catedral” com cerca de 100 metros de comprimento será construída sobre um plano em forma de cruz latina, com cinco naves e três fachadas. As naves estão separadas umas das outras por colunas inclinadas formando um arco parabólico. Todos os apoios convergem ao centro para dar estabilidade à construção. Gaudí concebeu esta inovadora técnica para que as 18 torres de uma altura de cerca de 110 metros, possam resistir a ventos tempestuosos, bem como a terramotos. O trabalho de Gaudí está aberto a todos : “A porta principal deve ser muito grande – explica –, porque não é para o homem individual, mas para toda a humanidade ; é que, todos têm um lugar no coração do Criador”.

“Gaudi – diz Bento XVI – queria juntar a sua inspiração aos três grandes livros de cujo alimento se formou como crente e como arquitecto : o livro da natureza, o livro da Sagrada Escritura e o livro da Liturgia”. Assim, juntou a realidade do mundo e a história da salvação, como lemos na Bíblia e na Liturgia. Introduziu no edifício consagrado, as pedras, as árvores e a vida humana, para que toda a criação convirja no louvor divino ; mas, ao mesmo tempo, colocou os retábulos do lado de fora, para que o mistério de Deus revelado no nascimento, paixão, morte e ressurreição de Cristo apareça diante dos homens. Desta forma, colaborou brilhantemente na edificação da consciência humana enraizada no mundo, aberta a Deus e iluminada e santificada por Cristo”.

No enorme estaleiro de construção da Sagrada Família, Gaudí fundou uma fraternidade maravilhosa. Ainda não existia a segurança social, e os trabalhadores laboravam até ao fim da sua vida. Como medida de precaução, o arquitecto estabeleceu um sistema de ajuda mútua que consiste em deduzir uma pequena parte do salário de cada um para pagar ao trabalhador que adoecia. Os trabalhadores amam-no tanto que, referindo-se a ele, o chamam de “Pai” ; mas Gaudí nunca o saberá. A sua bondade é proverbial. Um dia, um escultor apresentou-se ao trabalho depois de uma noite em branco. O arquitecto diz-lhe : “Quando o corpo tem necessidade, a primeira coisa a fazer é descansar. –De acordo –responde o escultor–, farei isso quando chegar a casa. “Não, isso deve ser feito agora”. E o escultor teve de o respeitar.

No entanto, a bondade do “pai” associa-se a um grande sentido de justiça. Quando um dos seus clientes não queria pagar os seus honorários, Gaudí recorria, sem hesitar, aos tribunais e após o julgamento, entregava o dinheiro a uma comunidade religiosa. Em colaboração com o padre da paróquia, projectou e financiou com as suas próprias economias, a construção de uma escola para os filhos dos pedreiros e das famílias mais humildes do bairro. “Os pobres, dizia, devem sempre encontrar acolhimento na Igreja, que é a caridade cristã.”

No entanto, por vezes, não resiste a um manifesto descontrolo traduzido em palavras cortantes. “Com o meu temperamento –diz–, não tenho outra solução que não seja dizer as coisas como as vejo. Apesar de causar sofrimento”. E acrescentou : “a minha força de vontade ajuda-me a superar todos os obstáculos, mas falha numa coisa : a modificação do meu temperamento”. Isso não impediu que tenha sido alegre e gostasse da boa disposição.

Junto dele

Um dia, durante uma visita a um hospital, Gaudí, acompanhado de um escultor, foi conduzido por uma Irmã para junto de um pobre moribundo sem família. Os dois homens permaneceram em oração ao lado do doente, até que ele, serenamente, exalou o último suspiro. “A devoção deste moribundo –dirá o arquitecto– convenceu-me de que a Sagrada Família estava a seu lado. E ocorreu-me que a poderíamos representar no claustro do templo”. Para tal realizou ali mesmo fez um esboço : o Menino Jesus nos braços da sua Mãe, que se inclina, sorrindo, para acariciar o moribundo, enquanto São José, ao pé da cama, contempla a cena.

Gaudí sabe valorizar as capacidades de cada um : “O trabalho é o resultado da colaboração, e isto não pode realizar-se sem amor. O arquitecto deve usar tudo o que os operários sabem e podem fazer. Deve avaliar a qualidade específica de cada um. Deve integrar, adicionando todos os esforços e apoiá-los quando se sentem desencorajados. É assim que se trabalha com alegria e com a segurança que, cheia de harmonia, brota do organizador. Todos são úteis de acordo com as suas capacidades. Simplesmente é necessário descobrir aquilo que cada um é capaz de fazer”. Também nas suas construções, Gaudí tem o prazer de integrar o entulho, pedaços de peças forjadas, coisas que parecem inúteis. Além disso, cultiva o amor pelo trabalho bem feito e procura a perfeição : “Geralmente as pessoas, quando fazem algo, e quando o trabalho é satisfatório, renunciam a progredir e satisfazem-se com o resultado obtido ; é um erro : Quando um trabalho está próximo da perfeição, deve-se prossegui-lo até que seja perfeito”. De acordo com a sua experiência pessoal, explicava que era raro atingir um resultado satisfatório à primeira tentativa. Portanto, quando lhe queriam impor limites de tempo, respondia : “O meu cliente não tem pressa’ ; na verdade, considerava que o seu único cliente era o próprio Deus. No entanto, se existia um erro na execução do trabalho dos seus colaboradores, corrigia-o com delicadeza, dizendo, por exemplo : “não compreendemos bem, vamos tentar de novo”.

Uma diligência que custa muito

Após o falecimento prematuro da sua jovem sobrinha, em 1912, e da morte do seu pai, Gaudí afirma : “Não tenho outras obrigações. Agora posso dedicar-me inteiramente ao Templo da Sagrada Família”. Primeiro, viveu sozinho em sua casa, no Parque Güell e depois, em outubro de 1925, mudou-se para a própria obra da Sagrada Família e aí viveu. O seu vestuário era pobre, a sua alimentação frugal e feita à base de leite de cabra, de limão e frutos secos. Oferecia todos os seus honorários para a construção da Basílica. Com o advento da crise económica, pedia esmola a fim de pagar aos trabalhadores, o que lhe custava muito fazer. Um dia, uma pobre mulher deu-lhe uma peseta, soma ínfima, mas foi, cheio de alegria, depositá-la na caixa das esmolas. Noutro dia, enquanto esperava sob uma varanda para proteger-se da chuva, um transeunte toma-o por um verdadeiro mendigo e dá-lhe uma esmola de duas pesetas que tiveram o mesmo destino. A sua pobreza provocou-lhe algumas decepções. Por ocasião da visita à Sagrada Família, da infanta Isabel, Gaudí aparece ali, mas os guardas reais, vendo este homem tão pobremente vestido, expulsam-no. Os seus colaboradores exclamam : “Como são estúpidos estes soldados ! –Não –responde Gaudí, cumprem o seu dever”. Às vezes confundem-no com o sacristão, e ele indica-lhes humildemente os horários das missas. O ex-presidente da República Federal espanhola, don Francesc Pi i Margall, um dia vem visitar a Sagrada Família. Desce até à cripta que já então estava aberta ao culto, e Gaudí, gentilmente, oferece-lhe água benta. O anticlerical Pi faz de conta que não vê, mas Gaudí insiste : “por favor, don Francesc”. E Pi i Margall surpreende-se, ele mesmo, ao fazer, à frente de todos, o gesto do sinal da Cruz.

Noutra ocasião, apresentou-se o director da Universidade de Salamanca, Miguel de Unamuno, ensaísta famoso, que se tornou num agnóstico angustiado. Aproximando-se da fachada da Natividade, onde proliferam símbolos cristãos, exclama ao arquitecto : ‘Você, um homem inteligente, ainda crê nestas coisas ?’. Gaudí não reage. Pouco depois, ouve-se o tocar do Angelus : Gaudí interrompe a conversa, tira o chapéu e, sem respeito humano, começa a rezar devotamente. Depois diz : “Laus Deo ! Desejo a todos uma boa noite ! “

Um visitante do edifício, ao admirar a mesma fachada adornada com uma profusão de elementos naturais, exclama : “Isto é um hino à natureza ! “Sim –responde Gaudí– mas prefiro dizer à Criação !”. Gaudí é fortemente criticado por causa dos ornamentos vegetais e animais do seu trabalho, mas justifica-se mostrando que todos os vegetais e animais são representações cheias de vida e movimento : a natureza criada canta assim a glória do seu Criador. Todos os dias, assiste à missa e concentra-se na leitura do Evangelho, de onde retira a inspiração para as personagens que adornam o Templo da Sagrada Família. Quando cita o Evangelho, todos se sentem impressionados, mesmo os não-crentes. Para ele, “o homem sem religião é um homem mutilado. Para fazer as coisas bem, é necessário primeiramente o amor, seguidamente a técnica”. Apaixonado pelo canto gregoriano, frequentou alguns cursos no Palácio da Música de Barcelona. Quando lhe perguntam a razão do seu interesse, responde : “Vim aqui para aprender arquitectura”. Os coros da Sagrada Família são planeados para acomodar cerca de 3000 cantores, porque o arquitecto está convencido de que o futuro pertence à Igreja. Sabe que toda a sabedoria, que todos os esforços do homem para se aproximar de Deus, mais cedo ou mais tarde encontrarão o seu ponto culminante em Cristo. A sua arquitectura é um deslumbrante testemunho desta convicção : reminiscências de outras tradições ou culturas são utilizadas, tal como no pedestal que leva a Cruz. Quando guia os visitantes através dos trabalhos no edifício, as suas explicações são uma excelente exposição da doutrina cristã. Algumas pessoas de diversas sensibilidades religiosas, especialmente budistas e adeptos do xintoísmo, converteram-se ao catolicismo em contacto com Gaudí e com o seu trabalho.

De acordo com o seu desejo

A 7 de junho de 1926, às 18 :00h, ao sair do trabalho, Gaudí foi atropelado por um carro eléctrico. Confundido com um mendigo, foi levado ao hospital da Santa Cruz, dirigido por religiosas ao serviço dos pobres, onde recebeu a unção dos enfermos. Quando a sua identidade foi descoberta, as mais competentes equipas médicas disponibilizaram todos os cuidados, mas era demasiado tarde. A 10 de junho, António Gaudí morreu como um pobre, conforme sempre tinha desejado. Foram estas as suas últimas palavras : “Meu Deus, meu Deus !”.

Os seus funerais tornaram-se num grande duelo público, onde todos se colocaram lado a lado, desde as autoridades civis e eclesiásticas até às pessoas mais simples e humildes. Está enterrado na cripta “da sua” igreja, na capela de Nossa Senhora do Carmo. O seu processo de beatificação está em curso e numerosas são as graças recebidas por sua intercessão.

António Gaudí sabia que não poderia terminar a sua obra : “Não queria terminar a construção do Templo. Isso não conviria… Fazer subir o Templo é uma oração no tempo. Devemos deixar às gerações futuras a possibilidade, ao constuí-lo, louvar a Deus empregando outros estilos.” E repetia frequentemente : “Será São José quem terminará este templo”. Certamente, a Sagrada Família que o Papa Bento XVI elevou à categoria de Basílica, é um edifício ainda incompleto.

Na ocasião da sua dedicação, o Papa destacou um aspecto fundamental deste trabalho : “Gaudi fez algo que hoje é uma das mais importantes tarefas : superar a cisão entre a consciência humana e a consciência cristã, entre a existência neste mundo temporal e a abertura para uma vida eterna, entre a beleza das coisas e Deus que é a Beleza”. E acrescentou : “Dedicamos este espaço consagrado a Deus, que se revelou e se entregou a nós em Cristo para ser definitivamente ‘Deus entre os homens’… A Igreja não retira a sua essência de si mesma ; é chamada a ser um sinal e um instrumento de Cristo, em obediência à sua autoridade e em serviço total ao seu mandamento. Um só Cristo e uma só Igreja ; Ele é a rocha sobre a qual a nossa fé se alicerça. Fundados sobre esta fé, procuremos juntos mostrar ao mundo o rosto de Deus, que é Amor, e que é o Único a poder responder ao ardente desejo de plenitude do homem. Essa é a grande tarefa : mostrar a todos que Deus é um Deus de paz e não de violência, de liberdade e não de coerção, de concórdia e não de discórdia”.

Que Deus único e verdadeiro faça de cada um de nós artífices de beleza e de paz, testemunhas da Verdade que é Cristo, a fim de podermos ser chamados filhos de Deus !


Dom Antoine Marie osb