Carta

Blason   Abadia de São José de ​​Clairval

F-21150 Flavigny-sur-Ozerain

France


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19 Maro 2019
festa de são José, esposo de Mária


Caro amigo da Abadia de São José

Em 1894, uma jovem carmelita de Lisieux (França) apresentava-se como voluntária para ingressar no convento recentemente fundado em Saigão (Indochina). Perguntaram-lhe o que pretendia fazer naquela longínqua terra de missão. Ela respondeu : « Crê que eu partiria em missão para fazer alguma coisa ? Estou segura de que não farei absolutamente nada ». Santa Teresinha do Menino Jesus queria com isso dizer que não são os resultados concretos o que conta aos olhos de Deus, mas o amor que colocamos nas nossas tarefas. A curta vida do beato Mário Borzaga, sacerdote missionário, assassinado com a idade de vinte e oito anos no Laos, após três anos de apostolado sem relevância exterior, é um belo exemplo de fé na fecundidade oculta do amor.

Nascido em 1932, em Trento, no sopé dos Alpes italianos, e após entrar no seminário para ser sacerdote, Mário Borzaga sente-se cativado, aos vinte anos, pelo testemunho de um missionário. Por isso ingressa no noviciado dos Oblatos de Maria Imaculada, uma congregação missionária fundada em Marselha, no século XIX, por Santo Eugénio de Mazenod. Pouco antes de fazer votos perpétuos, em 1956, Mário exprime no seu diário os “sonhos de felicidade” que o norteiam : « Compreendi qual é a minha vocação : ser um homem feliz, até no esforço para me identificar com Cristo crucificado. Quantos sofrimentos ainda me esperam, Senhor ? Somente Tu o sabes, e eu, em todos os momentos da minha vida, digo Fiat voluntas tua (Faça-se a Tua vontade). Quisera ser, como a Eucaristia, pão para alimento espiritual dos meus irmãos. Mas antes devo passar pela morte na cruz. Primeiro o sacrifício, e depois a alegria de me entregar aos irmãos do mundo inteiro… Se me dou sem antes me sublimar através do sacrifício, somente darei aos famintos de Deus um farrapo humano. Mas se aceito a minha morte em união com a de Jesus, será o próprio Jesus a quem, com as minhas mãos, poderei dar aos meus irmãos. Assim, pois, não se trata tanto de renunciar a mim mesmo, mas de reforçar tudo o que em mim é capaz de sofrer, de ser imolado, de ser sacrificado em favor das almas que Jesus me deu para que as ame » (Padre Mário Borzaga, o.m.i., Le Journal d’un homme heureux [Diário de um homem feliz], 17 de Novembro de 1956).

Escolhido para o martírio

Após ser ordenado sacerdote em 1957, Mário regista no seu diário : « Se Jesus me deu o seu amor, devo dar-Lhe amor ; se me deu o seu sangue, devo dar-Lhe o meu sangue !… Cristo que me escolheu é o mesmo que deu a vida e a força aos mártires e às virgens, que eram pessoas como eu, débeis e frágeis. Também fui eleito para o martírio ».

Um grupo de oblatos missionários está prestes a ser enviado ao Laos, e Mário oferece-se para essa arriscada missão, na perspectiva de aí encontrar uma população pagã para evangelizar num contexto de pobreza e sacrifício. Sabe que o país está em guerra e não ignora que o padre João Baptista Malo, sacerdote das Missões estrangeiras de Paris, deslocado ao Laos, morreu de esgotamento em 1954 no caminho que devia conduzi-lo a um campo de concentração vietnamita.

Na encíclica Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), São João Paulo II coloca uma objecção que com frequência se costuma opor à missão : « Devido às transformações modernas e à difusão de novas concepções teológicas, alguns perguntam-se : É ainda actual a missão entre os não cristãos ? Não foi, porventura, substituída pelo diálogo inter-religioso ? Não é um objectivo suficiente a promoção humana ? O respeito pela consciência e pela liberdade não exclui toda a proposta de conversão ? Não é possível a salvação em qualquer religião ? ». O Papa responde citando São Pedro : E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar (Act. 4, 12). « Esta afirmação, dirigida ao Sinédrio, continua o Papa, assume um valor universal, já que para todos – judeus e gentios – a salvação só pode vir por Jesus Cristo… Ele é o único mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tim 2, 5) … Os homens, pois, não podem entrar em comunhão com Deus, a não ser por meio de Cristo e sob a acção do Espírito Santo. A Sua mediação única e universal, longe de ser um obstáculo no caminho até Deus, é a via estabelecida pelo próprio Deus » (RM 4-5).

Mário Borzaga dirige-se ao Laos no Outono de 1957, país da Indochina encravado entre o Vietname e a Tailândia. Nesse momento, a sua população era de sete milhões de habitantes, na maioria budistas. Reino montanhoso sem acesso ao mar, somente em 1884 aí chegam os primeiros missionários católicos. Em 1893, a França estende o seu protectorado ao Laos, mas as anticlericais autoridades francesas não concedem qualquer ajuda às missões católicas, pelo que os missionários se vêem obrigados a fundar com grande discrição pequenos postos de evangelização. A maior parte dos cristãos são estrangeiros, sobretudo vietnamitas, e as conversões de laosianos são raras ; apesar de tudo, o Evangelho é recebido com satisfação por algumas tribos de “montanheses”, até então de religião animista. Em 1940, o Japão invade a Indochina e os sacerdotes franceses são expulsos. Após a capitulação do Japão, o Pathet Lao, emanação do Viet Minh (o partido comunista vietnamita), desencadeia uma guerrilha contra o governo monárquico laosiano. Em 1954, a França abandona a Indochina ; depois, como país independente, o Laos é devastado pela guerra do Vietname, que se desenrola, parcialmente, no seu território.

A minha cruz

O padre Mário Borzaga depressa vê-se confrontado com duras dificuldades. Na missão de Kengsadock, teve de aprender tudo : primeiramente a língua laosiana, tarefa árdua e condição prévia para toda a comunicação com os que veio evangelizar. Teve igualmente de adquirir mil conhecimentos práticos que lhe permitam sobreviver e socorrer uma população indigente, como a caça, a pesca, a construção de cabanas de madeira, mecânica… tudo isso num clima quente e húmido e num contexto de guerra civil. O jovem missionário descobre, com o tempo, que é « difícil aprender de todos, em silêncio, difícil sobretudo crer, sofrer e amar ». Deus não lhe pede que realize as proezas heróicas com que sonhou, mas trabalhar na obscuridade, pacientemente e sem resultados. Num dia de tribulação interior, anota o seguinte : « A minha cruz sou eu mesmo ; a minha cruz é a língua que não consigo aprender ; a minha cruz é a minha timidez, que me impede de pronunciar uma só palavra em laosiano ». Escreve então esta oração : « Tudo te pertence, Senhor, inclusive a inquietação, a angústia, o remorso, a obscuridade… Amo-Te porque és Amor ».

Em finais de 1958, o padre Borzaga, de vinte e seis anos de idade, é enviado a Kiukatiam, o seu primeiro posto missionário, a uma aldeia de etnia hmong, evangelizada umas décadas antes. De seguida, Mário encontra-se sozinho no meio dos indígenas de quem se deve ocupar, tanto no aspecto espiritual como no temporal. Celebrar missa, ensinar o catecismo, formar catequistas, preparar os catecúmenos para o baptismo, confessar, acolher e curar enfermos no dispensário da missão, visitar as aldeias vizinhas… são tarefas que preenchem a sua vida diária, sem tréguas nem repouso. Desgraçadamente, os hmong não falam laosiano, mas outra língua que Mário desconhece. Mas não desanima, e depositando toda a sua confiança em Deus, põe mãos à obra. Tímido, encontra segurança na certeza de se encontrar onde o Senhor Jesus o quer. Para compensar o seu forçado comportamento taciturno, faz mil favores, conquistando assim o coração dos hmong, os quais, sentindo-se amados, lhe dão o sobrenome de “coração grave e sincero”. Tem uma paciência a toda a prova, inclusive nos momentos de desânimo e tristeza. O seu gosto pela música move-o a ensinar cantos religiosos aos fiéis, compondo inclusive uma bela Salve Regina em língua hmong. Não obstante, teve de combater uma viva repugnância com a comida laosiana, a falta de higiene dos habitantes e o clima extenuante. Sobre isso, escreve no seu diário : « Em qualquer circunstância sorrio, não porque me sinta seguro de mim mesmo, mas porque estou seguro que Jesus, na batalha, emprega também as baionetas usadas, os canhões oxidados e os adormecidos soldados de infantaria ; por isso procuro que Ele saiba que formo parte deles, a fim de que me utilize para qualquer coisa … Como não dar infinitas graças a Deus pelo seu Amor preferente para comigo, mediante o qual me concedeu a fé e me deu a conhecer a sua Igreja ? Oh, meu Deus, que imensamente bom tens sido para comigo ! Que fiz para merecer tanto amor ? ».

Uma pequena chama na noite

Em duas cartas de 1959, o jovem missionário descreve com realismo a situação da sua missão : « A colheita do Senhor é imensa, para além das urzes e dos pântanos sulcados pelos búfalos, nas montanhas habitadas pelos hmong. Tudo está por fazer, com a graça de Deus : fariam falta centenas de ceifeiros, somente na nossa zona. E não somos mais que meia dúzia. Rezai para que a nossa santidade brilhe como uma pequena chama na noite… O missionário fez-se vagabundo para os que são desesperadamente vagabundos nas trevas ; fez-se ermitão pelo amor de quem, no meio da solidão glaciar do paganismo, busca uma mão que lhe abra a porta da Cidade celeste ».

O Papa São João Paulo II não duvida em afirmar com força o carácter legítimo e indispensável da missão : « O anúncio e o testemunho de Cristo, quando se levam a cabo no respeito das consciências, não violam a liberdade. A fé exige a livre adesão do homem, mas deve ser proposta, pois as multidões têm direito a conhecer a riqueza do mistério de Cristo, dentro do qual cremos que toda a humanidade pode encontrar, com insuspeitada plenitude, tudo o que busca às apalpadelas acerca de Deus, do homem e do seu destino, da vida e da morte, da verdade… Por isso, a Igreja mantém vivo o seu impulso missionário e inclusive deseja intensificá-lo num momento histórico como o nosso » (RM 8).

Cantar com o Padre

Os jovens alunos catequistas de Mário guardam uma recordação cheia de ternura para quem consideravam um verdadeiro pai. Um deles escreve : « O padre Mário Borzaga era muito paciente e tinha bom coração. Amava toda a gente. Entendia um pouco a língua hmong ; era eu quem lha ensinava ». Outro catequista refere o seguinte testemunho : « Vivi com o padre aproximadamente durante um ano. Tinha apenas dezasseis anos e não sabia construir uma casa. Fomos falar com o padre. Para uma casa de seis metros por oito, calculou num papel que as chapas metálicas, as vigas, etc., custariam nove barras de prata. Estive de acordo ; depois fomos cortar árvores grandes e levámo-las para que o padre as serrasse. Tinha vindo, também, um Irmão que ajudava o padre Borzaga : serraram a madeira para construir a minha casa, e erguemo-la. Todas as tardes, após a ceia, íamos aprender as orações com o padre Borzaga. Tinha uma voz potente e bela ». Uma testemunha afirma : « Era muito simpático, belo e mostrava-se sorridente e sempre disponível. Curava bem os enfermos e velava atentamente pelos seus alunos catequistas que tinham vindo de outros sectores para estudar com ele. Vivíamos numa pequena casa situada por detrás da sua. Comprou-nos roupa e lanternas. Era muito paciente, não se punha nervoso e tinha muita força de vontade. Cuidava bem de nós. O responsável, que era o mais velho de nós, era convidado frequentemente a sentar-se à sua mesa ».

Os missionários não se limitam a exercer uma acção humanitária, pois, ao ajudar os camponeses a conseguir sustento e curando-os, intentam abrir-lhes as almas ao amor de Jesus Cristo. Um laosiano escreverá aos pais de um oblato assassinado em 1961 pelos guerrilheiros, o padre Vicente L’Héronet : « O vosso filho ensinou-nos muitas coisas ; ajudou-nos a conhecer Deus ; fez-nos observar as virtudes ; estava sempre disponível para nos curar. Ajudou-nos a evitar o pecado e concedia-nos a graça de Deus ». Os missionários combatem o costume, ainda vivo entre aqueles cristãos, de oferecer aos espíritos sacrifícios de galos para obter a cura dos enfermos. Preocupados por conservar a fé dos jovens, proíbem-lhes de participar nas festividades budistas.

Em 1959, a Santa Sé pede aos missionários que trabalham em países em guerra que permaneçam nos seus postos, mesmo que as suas vidas corram perigo. Essa ordem é unanimemente aceite pelos sacerdotes presentes na Indochina, que sabem que estão expostos ao martírio. No domingo, 24 de Abril de 1960, depois da missa, Mário ocupou-se a cuidar dos doentes no dispensário. Um pequeno grupo Hmong apresenta-se e pede-lhe que o acompanhe à sua aldeia, situada a três dias de marcha. Querem ser informados acerca da religião cristã ; também esperam cuidados médicos para os doentes.

Há que aproveitar a ocasião, porque, sendo férias da Páscoa, encontram-se lá mais dois missionários oblatos, que poderão velar pela missão. Mário promete a essas pessoas que as seguirá no dia seguinte. O seu plano consiste em visitar várias aldeias e realizar, desse modo, um giro missionário antes que inicie a época das chuvas. Convida o catequista Paulo Thoj Xyooj, de dezanove anos, a acompanhá-lo, e promete regressar ao fim de uma ou duas semanas. Segunda-feira, dia 25 de Abril de 1960, festividade do evangelista São Marcos, empreendem a marcha, portadores da Boa Nova de Jesus e do seu amor para com os pobres e doentes. Vêem partir o padre com una mochila às costas, boina na cabeça e completamente vestido de negro como um hmong ; desaparece com o companheiro na curva do caminho e penetra na selva. Ambos chegam à povoação referida, Ban Phoua Xua, onde o padre cura enfermos ; depois, partem com a promessa de regressar uns meses mais tarde. O seu périplo é especialmente perigoso, pois há elementos da guerrilha comunista infiltrados nessa zona e que por aí circulam sem que ninguém os incomode

Porque dispararam ?

A 1 de Maio, em Muang Met, uma aldeia da etnia kmhmu, uma patrulha do Pathet Lao encontra-se com o padre e com o seu jovem acompanhante. Após acusar Mário de ser norte-americano, os guerrilheiros comunistas atam-lhe as mãos e os antebraços às costas e falam-lhe com grande dureza. O catequista Paulo grita : « Não o mateis, não é norte-americano, mas italiano, e é um sacerdote muito bom e muito amável com todas as pessoas. Só faz coisas boas ». Depois diz aos soldados, que o aconselham a fugir : « Não vou, eu fico com ele ; se o matais, matai-me também a mim. Onde ele morrer, aí eu morrerei ; onde viva, eu viverei ». Os guerrilheiros golpeiam selvaticamente o catequista para o fazer calar e decidem eliminar os dois homens sem testemunhos, a certa distância da aldeia. Entretanto, Mário permanece tranquilo e silencioso, como Jesus face aos seus acusadores. Várias décadas depois daquele facto, o chefe do grupo relatará : « Obrigámo-los a cavar um fosso. Fui eu quem disparou sobre eles. O hmong morreu de imediato, mas o norte-americano, ao cair no fosso, gritou : “Porque disparastes contra um sacerdote ?”. Sem esperar, cobrimo-los de terra e revistámos a mochila do norte-americano. Não tinha grande coisa : uns pequenos cordões granulados com dois bocados de ferro cruzados, imagens de uma mulher resplandecente, sozinha com uma criança, e imagens de um homem com o coração de fora… ». Rosários, imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem Maria eram o tesouro do missionário, as suas únicas armas. Naquele 1 de Maio era domingo. É provável que, naquela aldeia não cristã, Mário tivesse celebrado, sozinho com o seu catequista, uma missa muito matutina : foi o seu Viático.

Um aluno catequista acrescenta este testemunho : « Em Abril de 1960, o padre dirigiu-se para a morte, e eu guardei a sua casa e cuidei dos seus animais até Julho. Então vieram matar todos os seus animais, frangos, suínos… Levaram todo o vinho da missa, apoderaram-se das suas roupas e destruíram a sua casa. Tive de abandonar a casa e fugir para o bosque. Apreciava-o imenso e continuo a pensar muito nele : tinha um bom coração e era muito paciente. Gostava de toda a gente, era meu amigo e está morto. Chorei e ainda me caem as lágrimas. Actualmente continuo a pensar nele, porque era como se fosse meu pai. Creio e estou seguro de que roga a Deus para que me ajude cada dia. Estou confiante que Xyooj e ele estão com Deus, porque os dois tiveram um caminho muito difícil. Seguramente, Xyooj e o padre são santos e estão eternamente no Céu ». Outro dos antigos alunos do padre Borzaga declara : « Atesto firmemente que mataram o padre Mário porque se dirigia a esse povo para expulsar os espíritos e permitir às pessoas que abraçassem o cristianismo. Disso todos estamos convencidos : mataram-no porque tinha ido anunciar a Boa Nova de Jesus e curar os enfermos ». Os dirigentes da guerrilha, doutrinados na China e no Vietname, queriam deter a progressão do cristianismo no Laos. Estavam convencidos de que, uma vez expulsos ou mortos os missionários, seria fácil incutir no povo a ideologia marxista-leninista.

O repto das missões católicas é a salvação eterna das almas, uma questão primordial que se coloca a todos os homens. São João Paulo II escreveu : « A tentação actual consiste em ver no cristianismo apenas uma sabedoria meramente humana, como que uma ciência do viver bem. Num mundo fortemente secularizado, deu-se uma “gradual secularização da salvação”, devido à qual se luta certamente em favor do homem, mas de um homem mutilado, reduzido à mera dimensão horizontal. Pelo contrário, sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abarca o homem inteiro e a todos os homens, abrindo-lhes os admiráveis horizontes da filiação divina. Porquê a missão ? Porque a nós, como a São Paulo, nos concedeu a graça de anunciar aos gentios as inescrutáveis riquezas de Cristo » (cf. Ef. 3, 8 ; RM 11).

Crer e amar

A vida do padre Mário Borzaga mostra que a vocação missionária que se vive no amor é um verdadeiro caminho de santidade : « Quero que cresçam em mim uma fé e um amor profundos e sólidos como a rocha – escrevia. Sem eles, não posso ser mártir, pois a fé e o amor são indispensáveis. A única coisa que há que fazer é crer e amar ».

A 5 de Junho de 2015, o Papa Francisco assinou o decreto de beatificação de dezassete mártires mortos no Laos entre 1954 e 1970 ; entre eles há dez franceses, seis indochineses e um italiano (Mário Borzaga). A cerimónia de beatificação teve lugar em Vienciana (Laos) a 11 de Dezembro de 2016. Existe, actualmente, uma relativa apatia por parte do regime comunista que permite aos 50 000 católicos usufruir de certa tolerância, em troca de uma grande discrição. Hoje em dia, os sacerdotes católicos activos no Laos são maioritariamente laosianos ; são a bela expressão do desafio lançado pelos missionários europeus que vieram em auxílio do seu povo abandonado. Entretanto, segundo uma religiosa laosiana, « no norte do país a situação é especialmente difícil, já que está proibida toda a manifestação externa da fé, inclusive os lugares de culto, cruzes, imagens e livros sagrados, assim como qualquer gesto ou frase que possam ser interpretados eventualmente como proselitismo » (testemunho de 2013).

A missão — salientava São João Paulo II — é assunto de todos os cristãos : « Os homens que esperam Cristo são, ainda, um número imenso… Não podemos permanecer tranquilos se pensamos nos milhões de irmãos e irmãs nossos, redimidos também pelo Sangue de Cristo, que vivem sem conhecer o amor de Deus. Para o crente individualmente como para toda a Igreja, a causa missionária deve ter o primeiro lugar, porque diz respeito ao destino eterno dos homens e responde ao desígnio misterioso e misericordioso de Deus » (RM 86).

« O sangue dos mártires é semente de cristãos » (Tertuliano). Peçamos a Jesus, por intercessão do beato Mário Borzaga e seus companheiros, sementes caídas na terra do Laos, que aí faça germinar uma abundante colheita para a vida eterna.

Dom Antoine Marie osb