Carta

Blason   Abadia de São José de ​​Clairval

F-21150 Flavigny-sur-Ozerain

France


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8 Junho 2018
festa do Sagrado Coração de Jesus


Caro amigo da Abadia de São José

«Entre os perigos que, hoje em dia, ameaçam a juventude e toda a sociedade, a droga situa-se nos primeiros lugares como um perigo muito insidioso porquanto é menos visível… Na origem desse fenómeno, está frequentemente um clima de cepticismo humano e religioso, marcado de hedonismo, que no fim conduz à frustração, ao vazio existencial, à convicção da vaidade da vida e à degradação violenta… A praga da droga, favorecida por importantes interesses económicos e por vezes também políticos, espalhou-se por todo o mundo », afirmava o São João Paulo II (27 de Maio de 1984 e 24 de Junho de 1991).

Em 14 de Maio de 1991, o mesmo Pontífice declarava a heroicidade das virtudes de um jovem religioso redentorista, o padre Alfredo Pampalon, que é frequentemente invocado, desde a sua morte na comunhão dos santos, em 1896, pelas pessoas adictas ao álcool e à droga. A vida deste homem, aparentemente insignificante, brilha como uma luz para a nossa época ávida de eficácia material e de conforto. Ele tinha-a construído sobre as realidades sobrenaturais, e eis que abundantes graças, inclusive temporais, são obtidas pela sua intercessão !

Alfredo veio ao mundo numa paróquia mariana do Quebeque, Nossa Senhora de Lévis, em 24 de Novembro de 1867, nono filho de uma família profundamente cristã. O pai, António Pampalon, é empresário de construção de igrejas. A mãe, Josefina Dorion, reconhecida pela sua humildade e seu espírito de fé ; exerce com os filhos uma vigilância cheia de amor. Todas as noites, reza-se em família, especialmente o terço. Dois dos irmãos de Alfredo e a irmã Emma entregar-se-ão a Deus. Alfredo é especialmente afectuoso e prestável, e, graças à sua mãe, conhece rapidamente a bondade do Senhor e sabe pronunciar os nomes de Jesus, Maria e José.

Uma mamã ainda melhor

Aos cinco anos, perde a sua mãe. Essa dor aconteceu pouco após a alegria de um décimo segundo nascimento. Pouco antes de morrer, a senhora Pampalon reuniu os oito filhos vivos e, olhando para eles com sorriso afectuoso, disse-lhes : « Meus queridos filhos, a vossa mamã vai morrer… Amo-vos muito, mas vou partir … Não tereis mamã na terra… Confio-vos a uma mamã ainda melhor, a melhor que pode existir, a Virgem Maria …Ela tem-vos nos braços… Amai-a muito ! Rezai-lhe muito ! Ela cuidará de vós… ». Junto do leito, Alfredo chora em silêncio. As palavras de quem mais ama na terra ficam gravadas na sua memória ; marcarão toda a sua vida. A sua mãe expira em 2 de Julho de 1873, com a idade de 45 anos.

Um ano mais tarde, o pai decide voltar a casar-se, unindo-se a uma bondosa viúva irlandesa, Margarida Phélan, que considerará todos os filhos de António como seus. Alfredo mostra-se afectuoso e carinhoso com a sua segunda mãe. « Tinha sempre o sorriso nos lábios – conta Margarida. Era alegre, meigo, e divertia os meus filhos pequenos (os meio-irmãos de Alfredo) ; era prestável com todos ».

Com nove anos de idade, em Setembro de 1876, Alfredo ingressa como externo no colégio de Lévis, dirigido por padres diocesanos. Estudará ali durante cinco anos, sem nunca pensar vir a ser padre ; a atracção que sente pelo comércio move-o a pôr de lado os estudos clássicos optando pelo curso de comércio. Em Maio de 1877 faz a primeira Comunhão e, em 7 de Outubro, festividade de Nossa Senhora do Rosário, recebe o sacramento da Confirmação.

Nele se destaca um sentido do sobrenatural que se desenvolverá sem cessar. Confessa-se e comunga uma vez por semana, o que, para a época é um facto excepcional ; além disso, gosta de ajudar à missa. Passando todos os dias diante da igreja paroquial, aí se detém para adorar o Santíssimo e rezar à Virgem Maria. « Durante os dez anos de estudos que passei com ele nas mesmas classes – relata um companheiro –, não recordo que tenha cometido a mais pequena falta de disciplina. Tinha por costume sentar-se nos primeiros bancos da sala de aula para estar mais próximo do professor e menos exposto à distracção ». Mas o que chama a atenção é a virtude de Alfredo. Respira bondade ; durante o recreio, com humor equilibrado e um pouco traquina, dá mostras de ser um excelente organizador. Ninguém pode igualá-lo em alguns jogos ; sobretudo os mais jovens estão maravilhados com a sua capacidade para o cricket, o futebol e basebol… É muito rápido na corrida. Não somente o admiram, mas gostam dele, pois os seus êxitos não o impedem de ser modesto e amável.

Um sorriso que ilumina

Corre o ano de 1881. Como jovem adolescente, Alfredo não é brilhante nos estudos, e um defeito de pronúncia – que nunca conseguirá superar – faz com que os ouvintes sintam dificuldades em entendê-lo ; todavia, no catecismo sobressai… De repente, a sua vida corre perigo por causa de uma grave enfermidade. Reza, encomenda-se a Maria. « Deus fez-me compreender – escreverá – que não me queria no mundo, mas todo para Ele. Perante a sua chamada, e sem demoras, tomei a resolução de deixar o ramo comercial e seguir os estudos clássicos com vista ao sacerdócio, se ficasse curado ». Modera a sua inclinação para o jogo, permanecendo alegre, inclusive traquina, mas quer viver com o Senhor e para Ele. Conservará durante toda a vida o aspecto enfermiço, não obstante iluminado pelo seu sorriso. Aqueles esforços dão fruto, pois termina o ano de 1883 em quarta posição numa turma de trinta alunos.

Em 1885, una pneumonia leva-o às portas da morte. Recebe os últimos sacramentos. O santuário de Beaupré, onde os cristãos do Quebec veneram Santa Ana como padrœira, encontra-se muito próximo ; a família, alarmada, dirige-se com insistência à mãe da Virgem Maria para obter do Menino Jesus a cura de Alfredo. « À medida que avançava nos estudos – dirá mais tarde –, o meu desejo de ser sacerdote afirmava-se cada vez mais ; mas o que acabou por determinar a decisão foi a minha segunda enfermidade. Ali esperava-me Deus : inspirando-me a realizar o meu projecto mediante o laço irresistível do voto. Prometi-Lhe, se me concedesse a cura ». Professores e alunos de Lévis uniram-se aos pais para conseguir do céu esta graça. Alfredo fica curado… Logo que recupera as forças, faz a pé, com o terço na mão, os 35 quilómetros que o separam de Santa Ana de Beaupré. Uma vez ali chegado, de joelhos diante a imagem milagrosa, dá graças e promete seguir o exemplo do seu irmão ingressando nos redentoristas.

A Congregação do Santíssimo Redentor tinha sido fundada em 1732, pelo nobre napolitano, Santo Afonso Maria de Ligório, com o objectivo de evangelizar as almas mais abandonadas. Os seus religiosos – chamados redentoristas – só chegaram a Santa Ana de Beaupré em 1878. Antes da sua decisão, Alfredo tinha lido com proveito a obra que, em 1750, o santo tinha dedicado à Virgem : As Glórias de Maria. Como no Canadá não havia nenhuma casa de formação redentorista, teve de embarcar para a Europa. Corajosamente, em 22 de Julho de 1886 – aos dezoito anos –, separa-se do afecto dos seus para se dirigir ao noviciado de Saint-Trond, na Bélgica. Ali, a formação religiosa é austera, mas nutrida da doutrina dos santos : Alfredo aplica-se com zelo e bom humor. De repente, oferece-se espontaneamente para realizar as tarefas mais penosas. Apesar da sua débil saúde, faz grandes esforços, e edifica-se pela sua humilde obediência… Em 8 de Setembro de 1887, professa com alegria os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. Ele que, muito jovem, se tinha entregado nas mãos de Maria, exclama : « Prometi a minha Boa Mãe que seria santo ! E a minha confiança n’Ela dá-me motivos para o esperar ».

Enviado para o seminário maior de Saint-Jean-de-Beauplateau, para estudar dois anos de filosofia e quatro de teologia, enfrenta os estudos com coragem. Graças às assíduas orações – sobretudo a Maria, Trono da Sabedoria –, juntamente com a aplicação, consegue resultados cada vez mais satisfatórios. A sua única ambição é exercer da melhor maneira possível o seu futuro apostolado. É ordenado sacerdote em 4 de Outubro de 1892, começando o seu ministério em Mons, na Bélgica : pregação de algumas missões paroquiais, confissões e ensino do catecismo às crianças. Visita com frequência os enfermos, e encoraja-os com o seu sorriso e doçura. Desde os alvores da sua vida religiosa viu na Regra do seu Instituto uma salvaguarda : sabe que, por instinto espiritual, sem uma vida disciplinada, a perseverança não está assegurada. « Queres ser santo, um grande santo ? Observa bem, muito bem a Regra e as prescrições dos superiores », sugere ele.

Um guia seguro

De onde obtém essa fortaleza de espírito ? Da oração : « Não há virtude sem oração » – segundo ele mesmo diz –, especialmente a que provém da fonte, a santíssima Eucaristia. Ajoelhado na capela, permanece imóvel, com o olhar fixo no sacrário. Apesar disso, não confunde os meios com o fim : « Ama a Deus – diz – quem Lhe testemunha esse amor pelas obras e pelo sofrimento ; por outras palavras, quem se conforma com a sua santa vontade ». Os seus actos manifestam a sua consciência da presença de Deus. Na vida de comunidade, usa um cunho de amabilidade e de doçura que não o impede, quando se apresenta a ocasião, de expressar com franqueza a sua opinião, sem respeito humano.

O justo viverá da fé, podemos ler na Epístola aos Romanos (1, 17). Alfredo assimilou esta frase : « Na vida espiritual – diz – não nos devemos guiar pelos sentimentos, mas pela fé. O sentimento engana com frequência, mas a fé é um guia claro e seguro ». A fé mostra-lhe que o amor de Deus vai a par com a fuga de toda a culpa voluntária : « Só há um mal, o pecado, e um só bem, Deus ; nunca cometerei nem sequer a mais pequena imperfeição para agradar a quem quer que seja ». O Catecismo expressa a mesma verdade : « Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado e nada tem piores consequências para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro » (Catecismo da Igreja Católica, CEC, 1488).

Alfredo renova frequentemente as promessas do Baptismo e os votos religiosos. O seu espírito de fé brilha especialmente quando celebra o Sacrifício Eucarístico ; quanto à esperança, « chegada à maturidade, ela toma o suave nome de confiança… Devo conservar a paz de coração e não dar aso à mais pequena perturbação. A medida da nossa santidade depende da medida da nossa confiança ». Desse modo consegue mostrar-se contente com tudo, com os superiores, os companheiros, as provas interiores bem como com as consolações divinas, as dificuldades nos estudos assim como com a enfermidade.

No topo do edifício, o padre Alfredo colocou um amor apaixonado por Jesus Cristo. Impregnado desta frase de São João : « Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que consiste o amor : não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou » (1 Jo. 4, 9-10), quer dar amor por amor. Contempla o presépio, o crucifixo, a Eucaristia ; todos os dias faz a via-sacra e lê a Sagrada Escritura. Repete com frequência, sobretudo durante a sua última enfermidade : « Que a minha constância não desfaleça ! ; em breve chegará a eternidade ». Ao orientarmo-nos para as realidades eternas, a ideia da morte ajuda-nos a fazer prevalecer o amor de Deus sobre qualquer outro amor ; eis porque os santos pensavam frequentemente na morte.

Exaltar a misericórdia

Anima-o um ardente zelo para com almas. Diz a propósito : « Quero ser e permanecer sempre um santo sacerdote, para poder trabalhar com grande eficácia pela salvação do próximo. Quanto mais santo for, mais almas salvarei ». Não podendo, por causa da sua debilidade, pregar muito, dedica-se com assiduidade ao ministério da confissão. Nas missões paroquiais, dá o seu modesto contributo : dirige-se habitualmente às crianças e prepara-as para receber os sacramentos da Penitência e da Eucaristia. As suas instruções, claras, sólidas e práticas, são muito apreciadas. Tendo em conta os seus problemas de voz, é-lhe solicitado que pregue um único grande sermão, para o qual elege exaltar a misericórdia da Virgem Maria. A ânsia de trabalhar eficazmente pelo reino de Deus estimula-o a mortificar-se cristãmente, poderoso meio para a libertação do amor-próprio. Inclusive durante as saídas de passeio, raramente come fora das refeições, e suporta pacientemente as gretas que se formam nas suas mãos …

A partir do mês de Maio de 1895, mandam-no para longe de Mons, região mineira, para se tratar dos pulmões enfermos com o ar puro de Saint-Jean-de-Beauplateau, na floresta das Ardenas. Então escreve : « A minha forma de pregar é rezar pelas almas ». Sentindo-se livre dos critérios do mundo, pensa que « de entre todos os vícios, não há nenhum que tenha impedido tantas almas no caminho da piedade como o orgulho ; o espirito de vaidade gera o desejo imoderado de aparentar e de triunfar em tudo o que se faz ». Costuma falar pouco de si, mas menciona de bom grado as suas débeis capacidades intelectuais. Ocupa-se com esmero e satisfação das tarefas mais servis.

Desde a idade de catorze anos até à morte, Alfredo sofreu de tuberculose, mas, com sacrifício lá se foi aguentando. Apesar de tudo, em 5 de Fevereiro de 1896, nove meses após o seu forçado retiro nas Ardenas, teve de se resignar a permanecer na enfermaria : um pulmão está perdido e o outro está muito deteriorado. O médico prevê o fim em Março ou Abril. O jovem sacerdote passa os dias sentado num cadeirão : « Uns trabalham e outros estão trabalhados. Aqui estou eu, trabalhado pela doença ». Dedica o tempo à oração e à leitura da vida dos santos ; mas nunca se encontra ocioso. Tosse dia e noite. À tuberculose junta-se de seguida a disenteria ; além disso, formam-se escaras, pelo que tem de repousar sobre chagas abertas. Não obstante, nunca teve uma atitude de impaciência, conservando a sua amabilidade e alegria ; todos o visitam com agrado. Do divino Sacrifício da Missa, que continua a celebrar diariamente, obtém a força para suportar tudo em união com o seu Salvador cravado na Cruz. Mas em 23 de Agosto, não podendo manter-se de pé, foi forçado a interrompê-lo por várias vezes. Durante todo o mês de Setembro, bate-se entre a vida e a morte. No dia 29, às três da madrugada, recebe, pela última vez, a sagrada Comunhão. A custo se ouve o que ele diz. No dia 30, à uma da madrugada, em voz alta e claramente, põe-se de repente a cantar o Magnificat. Às duas horas, pede e recebe a absolvição de todos os pecados da sua vida. Pouco antes das oito, fixa o olhar para o céu sorrindo, como se visse alguém, e dá o último suspiro. Não chegou a completar vinte e nove anos.

Os testemunhos afluem

Uma vida pobre e árida, segundo parece ! Aquele débil sacerdote, de facto, não prestava nenhuma atenção às conversas que se mantinham sobre temas profanos, e parecia não entender nada delas. Contudo, imediatamente após a sua morte, as orações dirigem-se para Alfredo Pampalon. O seu irmão Pedro escreverá dez anos mais tarde : « Recolhi os favores temporais atribuídos à intercessão desse servo de Deus ; cheguei aos 275 e continuo a descobrir outros. Disponho de vinte e cinco casos, pelo menos, nos quais a cura me parece milagrosa ». Os anais do santuário de Santa Ana de Beaupré testemunham-no : « As vítimas das bebidas alcoólicas e dos estupefacientes parecem atrair a especial atenção e a misericórdia do servo de Deus. Os testemunhos afluem de todas as partes… ». Os jovens acodem a invocar o servo de Deus, para eles mesmos ou para outros. Nos nossos dias, os favores alcançados multiplicam-se.

« Segundo o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, a droga e a toxicodependência afectam especialmente os jovens, qualquer que seja o meio a que pertençam. A valorização das drogas mais variadas e o seu uso nunca foi tão importante, pois apresentam-se como se trouxessem um suplemento de « liberdade », como uma fonte de convivialidade ou de bem-estar » (Igreja, droga e toxicodependência, 2002, n. 1). Ilusória promessa ! Na realidade, o resultado é contrário ao efeito esperado, pois o toxicodependente cai na instabilidade afectiva, num estado depressivo inato ao que se acrescenta a dependência para com grupos e traficantes ; na sua inquietação, no seu desejo de possuir tudo com avidez e por vezes com angústia, sente-se a miúdo ameaçado e já não encontra sentido para a vida : « Seria melhor não ter nascido » ; tem dificuldades na hora de manifestar interesse com as pessoas ou coisas, porque a sua inteligência vê-se condicionada por tudo o que se refere à droga (ibid., n. 517). Por isso se entende a advertência paternal de João Paulo II : « O consumo de droga é sempre ilícito, pois implica uma renúncia, injustificada e irracional, no pensar, no querer e no agir como pessoa livre…Ora, o ser humano não tem direito a abdicar da sua dignidade pessoal, que é um dom de Deus » (23 de Novembro de 1991 ; ibid., n. 43). Além disso, « exceptuando a utilização sob prescrições estritamente terapêuticas, recorrer ao uso das drogas é uma falta grave » (CEC, 2291).

Para prevenir este mal, há quem preconize a liberalização das « drogas leves », supostamente inofensivas. Mas a experiência demonstra que o consumo desses produtos favorece o isolamento e a dependência, e além disso incita ao consumo de substâncias mais fortes. São numerosos os produtos tóxicos utilizados em medicina por causa dos seus efeitos benéficos, mas que, se consumidos de forma abusiva ou combinados entre si sem discernimento, podem tornar-se uma droga. O mesmo se pode dizer do tabaco e do álcool, já que a embriaguez alcoólica é tão perigosa como a embriaguez provocada pela cannabis.

Prevenir o mal

Na maior parte dos seus testemunhos, os toxicodependentes indicam que consomem essas substâncias para « estarem bem consigo mesmos » e para ter prazer. O prazer induz imediatamente à acção, quer dizer, sem efectuar um trabalho de discernimento. Desse modo, o consumidor entra numa espiral de dependência, ao ponto de as drogas se converterem no desejo primordial da sua existência. A liberalização desta escravidão supõe uma tomada de consciência : na realidade, desejos e prazeres – que são bons em si mesmos – realçam a reflexão do sujeito, a sua vida espiritual, a sua livre vontade e responsabilidade. Daí a necessidade de basear a própria existência numa moral e opção religiosa autênticas. Para assumir as dificuldades da existência, em especial para responder aos problemas colocados pela doença, a solidão e a morte, é indispensável primeiro descobrir o sentido da vida :

« A convicção serena da imortalidade da alma, da futura ressurreição dos corpos e da responsabilidade eterna dos próprios actos é o método mais seguro também para prevenir o terrível mal da droga, para tratar e reabilitar as suas vítimas, para as fortificar com a perseverança e firmeza nos caminhos do bem » (São João Paulo II, 7 de Setembro de 1984). Cada pessoa deve aprender a efectuar renúncias saudáveis, pois é assim que se constrói uma pessoa livre e responsável. Dirigindo-se aos bispos, João Paulo II afirmava : « O dom da vida refere-se à sobriedade, à castidade, à oposição contra a pornografia crescente, à sensibilização ante as ameaças da droga » (19 de Junho de 1983). Considerava a vida em família como um poderoso antídoto à tentação de fuga para um mundo irreal ; por isso instava os esposos a manterem relações conjugais e familiares estáveis, fundadas no amor mútuo aberto à vida, que sabe dar e perdoar.

O padre Pampalon deixou este mundo precisamente um ano antes de Santa Teresinha do Menino Jesus. Tanto um como outro sonharam partir para missões longínquas ; ambos desejavam o martírio e morreram em plena juventude : morreram de tuberculose e sofreram atrozmente ; um e outro descobriram que a sua vocação consistia em amar, ao longo de uma existência sem episódios sensacionais. O padre Alfredo, segundo podemos pensar, herdou junto de Deus um papel importante, que tem algumas semelhanças com o da padrœira das missões : ser misericordioso com as pessoas em aflição.

Venerável servo de Deus, concedei às vítimas da droga o dom da verdadeira esperança, que não falha (Rom. 5, 5).

Dom Antoine Marie osb