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8 Maro 2020 festa de São João de Deus |
«Sem aqueles que nos precederam, nada seríamos » —dizia Zita de Bourbon-Parma pensando na mãe e nas tias, mulheres exemplares e radiantes, princesas da família real de Portugal, que tinham como princípio : « Nada é duradoiro neste mundo, nada é mais aleatório do que o poder temporal. O que conta é o amor, e nada mais ». Mas, o reconhecimento de Zita era sobretudo dirigido ao marido, Carlos de Habsburgo-Lorena, sobrinho-neto do imperador de Áustria Francisco José. Após se tornar imperador no meio da tormenta da Grande Guerra, Carlos, apoiado fielmente pela esposa, tentou o impossível para devolver a paz aos seus povos e ao mundo inteiro. Morreu em 1922, no exílio e, a 3 de Outubro de 2004, foi beatificado por São João Paulo II. Zita, a última imperatriz da Europa, sobreviveu-lhe corajosamente durante sessenta e sete anos.
Zita Maria de Bourbon-Parma, a quinta de doze irmãos, nasceu a 9 de Maio de 1892 em Pianore (Itália). Filha de Roberto de Parma e de Maria Antónia de Bragança, sua segunda esposa. A questão das origens da família coloca-se com frequência : « Para as gentes de Pianore — relata Zita — éramos dos seus. Os nossos amigos de Schwarzau-am-Steinfeld consideravam que éramos austríacos. Em Chambord reivindicavam-nos como franceses (os Bourbon-Parma são descendentes directos de Luís XIV). Tudo isto nos parecia ao mesmo tempo belo e estranho, mas o papá tinha de esclarecer de vez em quando a nossa situação : somos príncipes franceses que reinaram em Parma ». O exercício do poder político, que durante muito tempo foi o destino da família de Zita, estava ao serviço do bem comum : « O compromisso político é uma expressão qualificada e exigente do empenho cristão ao serviço dos demais. A busca do bem comum com espírito de serviço ; o desenvolvimento da justiça com particular atenção às situações de pobreza e de sofrimento ; o respeito pela autonomia das realidades terrenas ; o princípio de subsidiariedade ; a promoção do diálogo e da paz na perspectiva da solidariedade: são as orientações que devem inspirar a acção política dos cristãos laicos » (Compêndio da doutrina social da Igreja, CDSI, núm. 565).
O melhor remédio
Zita guarda excelentes recordações da juventude : « Tive uma infância extremamente feliz e alegre… A dupla mudança da Áustria para Pianore e o regresoo, na Primavera, a Schwarzau, onde passávamos o Verão, para nós, que éramos crianças, era o maior acontecimento ». E recorda : « Se, durante as férias, estudávamos muito pouco segundo os nossos preceptores, tínhamos de coser, remendar e reparar. E não somente a nossa própria roupa, mas também a roupa das pessoas mais velhas e dos enfermos de Schwarzau ». As raparigas encarregavam-se também dos doentes sem família : « Pela tardinha, regressávamos com frequência esgotados e devíamos desinfectar-nos como medida preventiva para com os mais jovens. Quando essa limpeza durava demasiado, a nossa mãe recordava-nos : “A caridade é o melhor remédio contra os perigos de contágio” ».
Também havia momentos de distracção, em que os jovens príncipes podiam fazer pic-nic à vontade e entregar-se até ao fim da tarde a actividades como montar a cavalo, tomar banho e jogar com os meninos da aldeia. A educação era rígida, mas cheia de amor : « Para nós, o pior castigo —raramente infligido— era ficarmos sem sobremesa. As nossas refeições eram simples, de tal maneira que qualquer coisa doce extra era uma festa… A minha mãe era severa, mas adorávamo-la. Papá era a alegria e bondade em pessoa. Nunca nos bateu, mas quando tinha de repreender algum de nós, isso afectava-nos profundamente ». Entre si, as crianças riem e conversam; mas, quando havia convidados, havia que respeitar a ordem hirárquica e ser reverente. As jovens altezas aprendem depressa a descobrir a importância dos hóspedes observando o volume da ostentação provocada pela atrelagem ou pelo cortejo que os conduz. « Evidentemente — confessará Zita—, preferíamos que, por norma, provocassem menos ostentação ! ».
Zita estava internada no convento de Zangberg, na Alta Baviera, quando soube que o pai estava moribundo ; foi chamado por Deus a 16 de Novembro de 1907, antes, mesmo que ela o pudesse voltar a ver. Em 1909, a mãe envia-a a estudar em Ryde, na ilha de Wight, com as monjas beneditinas de Solesmes, então aí exiladas. A sua avó materna, que tinha ingressado no mosteiro após enviuvar, era a Prioresa; aí também estava a sua irmã Adelaide, monja desde há pouco tempo. Lá, Zita recebe uma educação de enorme valor em filosofia, teologia e música. Na sua alma nasce a atracção pela clausura.
Profecia
Entretanto, Zita e Carlos, que se conhecem desde a infância, encontram-se com frequência. Em 1911, o arquiduque pede a mão à jovem princesa, oferecendo-lhe um anel de comprometida que Zita guarda no bolso com um «Obrigada ! » travesso. A 24 de Junho, Zita e a mãe são recebidas pelo Papa Pio X. No decurso da audiência, este declara à jovem, com um sorriso : « Então, vai-se casar com o herdeiro do trono ? ». Zita tenta desenganá-lo por três vezes : « Santo Padre, o meu noivo é o arquiduque Carlos ; o arquiduque herdeiro é Francisco Fernando ». Mas o Papa não altera a sua observação : « Alegro-me infinitamente que Carlos seja a recompensa que Deus concede à Áustria pelos serviços que ela tem dado à Igreja ». À saída da entrevista, Zita diz o seguinte à mãe : « Graças a Deus que o Papa não é infalível em questões de política ! ». « Pela ocasião do processo de beatificação de Pio X —dirá Zita—, testemunhei que se tratava de uma profecia que se tinha plenamente realizado ».
Durante um festival aéreo perto de Viena, os jovens noivos são ovacionados, mas Zita entristece-se : « Estas aclamações parecem clamores de insurreição », assinala. Carlos estranha, mas ela evoca então a queda da sua família em Parma e a dos Bragança em Portugal : « Temos que ser realistas ; a nossa vida é frágil e o poder, efémero ». Carlos cala-se por uns minutos, sopesando essas palavras. « Creio entender o que queres dizer… mas na Áustria, não ocorre o mesmo. Peço-te para não falarmos mais disso ! ». Zita assinalará : « Durante anos, deixámos de falar disso. Mas a 24 de Março de 1919, precisamente após termos franqueado a fronteira para alcançar o inferno do exílio, Carlos disse-me : “Tinhas razão…”. Entendi imediatamente o que queria dizer e proferi em voz baixa : “ Como gostaria de estar equivocada !”. E foi aquela a última frase da nossa discussão, ou, melhor dito, da maior divergência nos nossos pontos de vista que jamais tivemos ».
A boda celebrou-se a 21 de Outubro de 1911 com o fausto que reclama uma das maiores cortes da Europa. A viagem de núpcias de suas altezas consistiu em percorrer de automóvel o império austro-húngaro. Carlos pode expressar-se nas dezassete línguas faladas no império, seis das quais conhece na perfeição ; Zita aprende com fervor os rudimentos das que lhe faltam. A 20 de Novembro de 1912, dá à luz o primeiro dos seus oito filhos, Otto. Carlos retomou a vida de oficial de cavalaria, ao mesmo tempo que intensifica o relacionamento com o tio Francisco Fernando. Há muito tempo que o arquiduque herdeiro expõe de bom grado as suas opiniões políticas ao sobrinho e, desse modo, prepara-o para as suas responsabilidades vindoiras.
« No contexto do compromisso político do leigo fiel —refere o Compêndio— é necessário prestar especial atenção à preparação para o exercício do poder, que os crentes devem assumir… O exercício da autoridade deve assumir o carácter de serviço, que é necessário desenvolver-se sempre no âmbito da lei moral em função do bem comum : quem exerce a autoridade política deve fazer convergir as energias de todos os cidadãos para este objectivo, não de forma autoritária, mas valendo-se da força moral alimentada pela liberdade » (CDSI, nº. 567).
O ultimato
Uma noite, durante uma ceia em família, Francisco Fernando confidencia ao sobrinho : « Vão assassinar-me ! Carlos , deixei-te uns documentos, fechados num cofre. São reflexões, projectos, ideias, que talvez venham a ser-te úteis. Mas, guarda silêncio, pois não quero que Sofia fique triste ». O herdeiro tinha casado com Sofia Chotek - em matrimónio morganático, pois a esposa não tinha grau de ascendência suficiente para ser Imperatriz ; como consequência, os filhos não podiam herdar o trono. Zita comprende que Carlos possa suceder ao tio à cabeça do império muito antes do previsto. A 28 de Junho de 1914, Carlos e Zita são informados da trágica notícia do assassinato do príncipe herdeiro e da esposa, em Sarajevo, por um nacionalista sérvio. «Encontrávamo-nos numa estanha situação —recordará Zita—. Por um lado, era necessário tudo fazer para a obtenção da paz, e isso ia no sentido do herdeiro ao trono assassinado. Por outro lado, coisa que se esquece facilmente com o passar do tempo, uma grande potência como o Império Austro-Húngaro não podia permitir que impunemente assassinassem o herdeiro ao trono, que encarnava o futuro. Em tal situação, nenhum governo poderia actuar como se nada tivesse ocorrido ! ». Assim pois, o imperador Francisco José considera iniludível o dever de justiça e, crendo-se capaz de circunscrever o conflito localmente, lança um ultimato à Sérvia que desencadeará, de facto, a engrenagem das alianças ofensivas e a I Guerra Mundial. A família de Zita encontra-se dividida : três dos seus membros combaterão no exército imperial aliado da Alemanha, enquanto dois, Sisto e Xavier, rejeitados pela República Francesa, por serem príncipes Bourbon, alistar-se-ão no exército belga. Zita dissimula a sua emoção durante o último serão em família no terraço de Schwarzau. Xavier escreve no diário : «Nunca antes desta ocasião tínhamos tido tanta consciência da solidez dos nossos laços. Combatemos em frentes completamente diferentes, e, apesar de tudo, estamos todos no grupo dos que defendem a Europa contra os que pretendem destruir o nosso continente ».
Durante a guerra, Zita é encarregada de inspeccionar os hospitais e elaborar um relatório detalhado. As condições depressa se tornam deploráveis. Após ter previsto um final desastroso da guerra, o imperador Francisco José procura uma maneira de restabelecer a paz, mas os conselheiros e o espírito do povo, influenciados pela propaganda alemã, opõem-se. Continua a trabalhar para esse objectivo, até à morte, com a idade de oitenta e seis anos, a 21 de Novembro de 1916. Carlos torna-se então imperador. O mesmo espírito de fé anima Zita e o marido : « Mil poderes, autoridade única ! —dirá ela—. Todas as forças que, à nossa volta, se agitam, empurram ou travam, não são nada ao lado do Único Poder (Deus) que nos domina. E o imperador Carlos esteve ao seu serviço ». A coroação como soberanos da Hungria em Budapeste, a 23 de Dezembro de 1916, faz pensar na transfiguração de Jesus no monte Tabor antes da Paixão. A cabeça de Zita recebe a coroa das rainhas da Hungria ; depois, a coroa de Santo Estêvão, primeiro rei de Hungria, com a qual Carlos vem a ser cingido, é-lhe colocada sobre o ombro direito pelo arcebispo-primaz que diz: « Recebe a coroa da soberania, para que saibas que és a esposa do rei e que deves cuidar sempre do povo de Deus. Quanto mais alto te encontres, mais humilde deves ser e mais deves permanecer em Jesus cristo ». Essas faustosas cerimónias não fazem que o casal real esqueça os sofrimentos do povo afectado pela guerra : os dezoito pratos do banquete desse dia somente são apresentados aos convidados antes de serem enviados aos feridos do hospital de guerra de Budapeste; o baile tradicional foi suprimido.
Zita reconforta o povo
O novo imperador toma rapidamente o comando efectivo do exército ; com a sua prudência, poupa centenas de milhar de vidas. Por sua vez, Zita reconforta o povo e proporciona-lhe todo o apoio material possível. A partir de 1917, o imperador tenta firmar uma paz separada entre Áustria e os aliados (França, Inglaterra e Itália). Com esse propósito, envia, por várias vezes, os príncipes Sisto e Xavier aos governantes de França e de Inglaterra. Infelizmente, diversas intrigas políticas fazem fracassar essas tentativas que tantas vidas poderiam ter salvo.
« O quinto mandamento proíbe a destruição voluntária da vida humana. Por causa dos males e injustiças que toda a guerra traz consigo, a Igreja pressiona constantemente cada um dos seus filhos para que ore e tudo faça de modo que a bondade divina nos livre da velha escravidão da guerra. Cada cidadão e cada governante deve trabalhar no sentido de evitar as guerras. No entanto, enquanto «subsistir o perigo de guerra e não houver uma autoridade internacional competente, dotada dos convenientes meios, não se pode negar aos governos, uma vez esgotados todos os recursos de negociações pacíficas, o direito de legítima defesa » (CIC, núm. 2307-2308).
Em Outubro de 1918, uma revolução de inspiração comunista estala em Budapeste e o império fragmenta-se rapidamente. A 3 de Novembro, é assinado um armistício entre a Áustria-Hungria e as potências da Entente. No momento em que a revolução progride até à capital austríaca, a maioria dos guardas imperiais abandona o seu posto. Os cadetes da escola militar apresentam-se espontaneamente para assegurar a protecção do palácio imperial de Schönbrunn, com grande satisfação de Zita, emocionada por esses jovens cuja fiel bravura supera a dos mais velhos. Alguns milhares de operários socialistas, habilmente manipulados por agitadores republicanos, reclamam “em nome do povo” a saída dos Habsburgo. O imperador recusa mais derramamento de sangue dos seus povos já tão sacrificados, e, a 11 de Novembro de 1918, renuncia exercer as suas funções, mas sem abdicar. A família imperial retira-se para uma residência de caça, onde está exposta à insegurança, ao frio, à má nutrição e à doença. O tenente-coronel inglês Strutt, encarregado pelo governo britânico de melhorar as condições de vida de Carlos e Zita, torna-se num valioso amigo. Face às ameaças revolucionárias, aconselha os soberanos a abandonarem o país. Carlos decide fazê-lo a 24 de Março de 1919. O exílio começa na Suíça. Dali, com o apoio moral do Papa Bento XV, tenta, em duas ocasiões, restaurar a monarquia na Hungria, mas, em vão. Os aliados exilam então Carlos e Zita na ilha da Madeira (Portugal), onde se instalam a 19 de Novembro de 1921 com alguns empregados, mas sem os filhos, os quais só mais tarde se juntarão a eles. São espoliados dos seus bens pessoais e não recebem nenhuma das compensações financeiras que lhes tinham sido prometidas. O clima invernal é frio e húmido e a casa mal aquecida. A 9 de Março de 1922, o imperador sofre uma congestão pulmonar; morre a 1 de Abril, primeiro sábado do mês, dia consagrado ao Coração Imaculado de MarIa.
Um grande dever
A 13 de Maio, aniversário da primeira aparição da Virgem em Fátima, Zita consagra a família ao Coração Imaculado de Maria, antes de deixar a Madeira e ir para Espanha. Daí em diante, é regente do filho Otto : « Tenho um grande dever político, e talvez somente esse. Devo educar os meus filhos seguindo o espírito do imperador, fazer deles homens bons e tementes a Deus. A história dos povos e das dinastias —que não conta o tempo tomando como referência uma vida humana, mas segundo medidas muito mais longas — deve inspirar-nos confiança ». Em Agosto de 1922, a família imperial establece-se em Lekeitio, no País Basco espanhol, bastante próximo de Lourdes, um lugar de muita devoção para Zita. Em 1929, Zita fixa residência na Bélgica, perto de Lovaina; aí usufrui de uma vida campestre onde a etiqueta é simplificada, cultiva rosas e, por vezes, ela mesma se encarrega das vinte e cinco cabras e ovelhas. Para os filhos, opta por escolas católicas francófonas. Otto obterá, em 1935, na Universidade de Lovaina, um doutoramento em ciências políticas e sociais. A 20 de Novembro de 1930, ao atingir a maioridade, torna-se chefe da Casa de Habsburgo.
Em 1938, Hitler invade a Áustria para realizar o Anschluss (anexação para a unificação política dos povos da “Grande Alemanha”). O ditador, nascido na Áustria, sempre odiou os Habsburgo. A 22 de Abril, Otto foi condenado à morte por alta traição, em razão da sua hostilidade para com o Reich. A 9 de Maio de 1940, dia do aniversário da imperatriz, os alemães atacam a Bélgica. No dia 10, ao amanhecer, os bombardeiros da Luftwaffe sobrevoam a residência imperial. Os dezassete ocupantes partem precipitadamente para França em três automóveis. Duas horas mais tarde, a casa começa a ser consumida pelas chamas ; segundo Otto, trata-se de « uma pequena prenda de Hitler ». A família embarca para Nova Iorque, estabelecendo-se depois perto do Quebeque, onde os quatro mais novos terminarão os estudos na Universidade Católica. Os quatro mais velhos ganham a vida e defenden os interesses dos seus povos nos Estados Unidos ou na Inglaterra. A imperatriz representa Otto ante o presidente Roosevelt ; a 11 de Setembro de 1943, este recebe-a em Hyde Park. Zita intercede em favor da Áustria e de um projecto de federação dos povos danubianos. Por outro lado, dedica-se a recolher fundos e a apoiar os súbditos mediante toda a espécie de ajudas. Pelo Natal de 1948, instala-se perto de Nova Iorque e presta um último serviço político à Áustria : ao inteirar-se de que o Senado pondera excluir o seu país do Plano Marshall, por causa do pretenso acolhimento entusiasta a Hitler em 1938, a imperatriz convence uma cinquentena de mulheres de senadores a restabelecer junto dos maridos a verdade. Graças a elas, foram aprovadas ajudas à Áustria.
Entre as monjas de Solesmes
Os casamentos de três filhos reconduzem a família à Europa. Em 1953, Zita decide estabelecer-se no castelo de Berg, propriedade dos grã-duques do Luxemburgo. Como oblata beneditina de Santa Cecília de Solesmes desde 1926, sente uma renovada atracção pela clausura. O Abade de São Pedro de Solesmes dissuade-a de abandonar o mundo por causa da sua posição social, que lhe permite actuar em favor de uma Europa cuja identidade é incompreensível sem o cristianismo. Não obstante, graças a um indulto de Pio XII, Zita poderá realizar várias estadias entre as monjas, que ultrapassarão, no total, três anos. A sua neta Catarina, ao vê-la, um dia, atrás das grades da igreja, exclama : « Avó, está na cadeia ? ». Ao que a imperatriz responde : Minha filha, quem está na prisão sou ou és tu? ». Em 1959, as autoridades políticas não lhe permitiram assistir ao funeral da mãe, que teve lugar na Alta-Áustria, numa propriedade dos Bourbon-Parma. Nessa época, Zita reside alternadamente em casa dos filhos, na Baviera e em Bruxelas. Em 1962, estabelece-se em Zizers, no cantão suíço dos Grisões.
Levanta-se às cinco da manhã, assiste diariamente a várias Missas, medita sobre a Paixão de Jesus apoiando-se nas quinze orações de Santa Brígida e reza assiduamente o Rosário. Em 1982, uma sentença do Tribunal Superior de Justiça Administrativa reconhece que a lei de exílio anti-Habsburgo não deveria ter afectado Zita, membro aliado desta dinastia, pelo que o seu regresso triunfal a Áustria, nesse mesmo ano, após sessenta e três anos de exílio, foi uma das suas maiores alegrias. A 13 de Novembro, mais de 20 mil pessoas assistem à Missa celebrada, com a sua presença, na catedral de Santo Estêvão de Viena. Tendo considerado que ser forçada ao exílio não a autoriza a abandonar a missão recebida de Deus, nunca renunciou aos seus títulos. Apesar disso, a sua saúde deteriora-se : perde a visão e desloca-se com dificuldade. Mas os seus próximos dão testemunho de uma enorme paciência, à espera serena da morte que lhe permitirá reencontrar-se com o marido. Faleceu a 14 de Março de 1989, com a idade de 96 anos e foi inumada na cripta dos Capuchinhos de Viena, com a magnificência própria do ritual imperial conforme o seu estatuto. O seu coração repousa com o de Carlos na abadia de Muri, na diocese de Basileia. O processo de beatificação da imperatriz iniciou-se em 2009. As graças obtidas mediante a sua intercessão podem ser enviadas para a Association pour la béatification de l’impératrice Zita, Abbaye Saint-Pierre, 1 place Dom Guéranger, 72300 Solesmes (França).
Roguemos para que, seguindo o seu exemplo, aprendamos a servir a Deus e ao seu reino pelo bem do nosso país e da Europa, inclusive no meio das circunstâncias humanamente mais desfavoráveis.